Sem forças caminho...(Depoimento)

"Acordei as 6 horas da manhã, o sol estava tentando relutar em não aparecer, e junto dele sentia a brisa se inebriar entre as montanhas de minha cidade. O vento parecia-me tocar levemente em minha face, e então pude sentir a vida pulsar dentro de mim.

Há muito tempo não sentia a presença de eu mesma e dos sentimentos que estavam me cercando fazia tempo em minha vida. Sentimentos que estava carregando como um fardo, como um peso dentro do meu ser.

Não entendia o motivo de tantas lágrimas ultimamente, não entendia porque estava tão triste fazia tempo. Já tinha meses que queria abandonar tudo, e até mesmo abandonar o que mais estava precisando naquele momento: DEUS.

Lá estava eu querendo abandonar Deus e tudo aquilo que eu tinha vivido do lado Dele. Tantos retiros, tantas palestras que havia feito, tanto suor, tantas pregações e palavras que tinha dito e não fazia mais sentido para mim. Não entendia mais nada. Deu vontade de largar a minha vocação e também não fazer mais nada para agradar as vontades de Deus. Deu vontade de “chutar o pau da barraca” e dizer a todos que estavam ao meu redor: “Quero sumir!”

Existe uma frase em latim que gosto muito que é assim: “PATHUS, MATHUS”, que significa Sofrimento é Ensinamento. E o quanto tenho aprendido nestes dias sobre tantos espinhos que pedi a Deus que retirasse de mim, e assim como Paulo, Ele os deixou para ser provada naquilo que eu preciso me erguer.

Um amigo meu disse para mim que o ouro é provado no fogo. E hoje embora não me sinta como ouro, Deus parece retirar de mim algo muito profundo. Assim como aquele médico que faz uma operação e retira algo que estava sendo inflamado em seu paciente, hoje passo por este processo, esta inflamação. Muitos anos guardando tantos sentimentos e desejos de não se encontrar comigo mesmo, e Deus sendo o meu médico e fazendo esta operação em meu coração.

Há tempos eu estava me martirizando com tantos sentimentos que não prestavam mais, e carregando dentro de meu coração uma luz que não estava vindo do céu, mas do meu ego que estava crescendo e ficando enorme.

Tantas vezes eu deixei de conversar e me abrir com as pessoas que mais amava, porque me sentia auto-suficiente e dizia para eu mesma: Preciso ser forte!

Mais nesta superficial “fortaleza”, vinha um abatimento e ao mesmo tempo uma imensa vontade de não carregar mais tantos problemas que estava vivendo comigo mesma.

Então lá estava eu naquela Páscoa, indo a missa, pedindo a Deus forças, mas sem saber o que poderia estar ocorrendo com o meu coração. Sempre pensei em ajudar as pessoas, em entendê-las, em estender a mão e principalmente em amá-las, mas eis que eu estava naquele Páscoa diferente, pois não sentia mais nada em meu coração, parecia oca, sem nada por dentro, mais nada a oferecer a ninguém, porque eu é quem estava precisando de ajuda.

Queria oferecer ajuda ás vezes em quem me pedia, mas eu não sabia pedir ajuda e socorro para tanto peso que havia colocado em meus ombros. Os dois pesados e com vontade de desistir.

Uma simples ligação para uma amiga modificou a minha história, a rota e a maquiagem que eu estava colocando há muito tempo em minha face e principalmente dentro de mim.

Em apenas uma frase ela me desmontou: Você não é rocha Roberta! Pare de ser rocha!

Ali eu percebi o quanto estava carregando um peso dentro de mim, e que eu tinha sentimentos e também precisava me esvaziar.

Lá estava eu carregando fazia tempo muitas pessoas, muitas situações, muitos momentos e tantas coisas desnecessárias em meus ombros.

Não estava mais vivendo em função de eu mesma, mas dos outros, das necessidades dos outros, dos problemas dos outros e principalmente do amor que pensava dar, mas que tanto estava precisando.

Está sendo difícil aceitar a realidade de não carregar tanto peso assim. Mas hoje eu digo, preciso não desistir mais de minha vida e principalmente não desistir de Deus!

Meu coração hoje se apega em pensamentos de esperança e mudanças internas que com certeza me farão buscar mais o que Deus tem para mim. Está sendo difícil essa realidade, pois agora me sinto integrante do mundo real, dos problemas que existem, mas não conseguirei levá-los todos para a minha casa, para a minha vida, sem antes saber quem eu realmente sou.

Sou filha de Deus, e tenho minhas limitações e hoje entendo que muitas vezes terei que chorar, que sofrer, mas não sozinha, mas com tantos amigos que Deus tem me dado de presente e colocado em minha vida.

Viver a vida com passos lentos e sem pressa de ser feliz.

Hoje me sinto fraca como aquela águia que atravessou o oriente a procura de sol para se aquecer do inverno rigoroso que deixou para trás. Me sinto como aquele pássaro que machucou as asas e não consegue voar mais temporariamente, porque muitas vezes procurou um galho solto para alçar, e sem querer despencou, pela sua desantenção.

Embora me sinta tão livre, também me sinto tão presa.

Embora me sinta tão distante, também me sinto tão perto.

Embora me sinta na realidade, também não estou conseguindo me achar nela.

Embora me sinta fraca, também sinto algo mudar dentro de mim.

Peço a Deus a graça da paciência e do amor.

Peço também que eu seja limitada e onde eu não puder ir, que Ele vá por mim.

Peço que eu possa oferecer o amor mais profundo as pessoas, mas entendendo as minhas limitações de ser humana.

Que eu possa esperar no Senhor e não esquecer de pedir para que Ele possa sempre andar ao meu lado.

Forças já não tenho mais, mas perseguirei com fé tudo aquilo que o Senhor tem para mim.

Que eu possa deixar as marcas de dor em mim, e principalmente o quanto amei, mas não deixe de caminhar, de persistir até o Céu, porque é lá o meu lugar."

Roberta Mendes de Araújo
Enviado por Roberta Mendes de Araújo em 12/04/2010
Reeditado em 12/04/2010
Código do texto: T2191682
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