TRIBUTO À VIDA

Por que nos impressiona tanto o corpo gelado, rígido, mãos sobre o peito, pele de cera, algodão no nariz?...

Atualmente o cheiro de flores e do sebo das velas está sendo substituído por coroas artificiais e por lâmpadas; a cerimônia passa a ser nas Câmaras Mortuárias do próprio Cemitério e até as lágrimas parecem gotículas congeladas em olhos sem esperança. Os caixões continuam sendo os mesmos, a diferença está na qualidade, dependendo da condição social da família e os túmulos crescem verticalmente.

Então, se os defuntos foram pessoas importantes começam o desfile de homenagens, algumas vezes merecidas, porém, por que os elogios, os prêmios, as palmas, também não acontecem em vida?

Outra perspectiva para nossa reflexão é sobre a falta de diálogo com relação a esse tema – na família, na escola, na comunidade e até mesmo nas igrejas. Conversar abertamente com os filhos sobre a morte é um tabu, assunto não discutido, até porque os adultos não receberam nenhuma informação anterior, nos colégios poderia existir uma disciplina que tratasse do assunto sem preconceitos e nas igrejas há uma cobrança de bom comportamento para se conquistar o céu e, para os de má índole o destino é o inferno. Mas quem explica afinal o que é mesmo o céu e o inferno? Se vamos para lá, então não morremos.

Aqueles, de espiritualidade elevada, nos dizem que o ser humano tem sete corpos – o físico, o emocional, mental, astral, etéreo, celestial e causal, portanto, com a morte física vamos para outro plano, levando nossa consciência nesses últimos corpos sutis e invisíveis aos olhos carnais.

A ciência vem acompanhando essas descobertas espirituais, contudo, enquanto não acreditamos nesses fatos, como seria bom para o nosso eu, praticarmos mais o amor ao próximo, aquele ser de carne e ossos que convive conosco quase que diariamente.

Os meios de comunicação, tão presentes em nossas vidas, poderiam dar mais espaço para homens e mulheres que praticam o bem, famosos e desconhecidos. Por exemplo, o brasileiro que trabalhava na ONU e que foi morto num atentado lá no Iraque, tinha uma bela história de vida, mas só ficamos conhecendo após sua morte.

Aqui em nossa cidade, ficamos consternados e saudosos, relembrando talentos como o “Vôo Livre” e “Sem Fronteiras”, certamente é justa e merecidas as homenagens póstumas, mas feliz daqueles que tiveram a oportunidade de conhecê-los e elogiá-los em vida, com sinceridade, olhando dentro dos olhos.

Portanto, antes que o prazo de empréstimo de nossas próprias vidas e a de nossos amigos, familiares, colegas de trabalho, vizinhos, enfim de todos se esgotem, vamos distribuir carinho, elogios, presença, solidariedade, amor, isso tudo não dói, pelo contrário, é um bálsamo para nossas almas; dor é partir ou ver os outros irem embora sem ter tido tempo de simplesmente dizer: “Tu tens muito valor para mim e eu te amo!”

Rosa Dias
Enviado por Rosa Dias em 06/10/2006
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