Sobre a tragédia ecológica na Região Serrana do Rio de Janeiro

Amigos escritores do Recanto. Recebi por e-mail este relato desesperador e cheio de detalhes de sofrimentos de uma família que, ao que parece, tem uma condição social possível de um socorro imediato, tipo cinco estrelas. Posto este relato para que possamos refletir sobre àqueles que não têm a mesma condição para amenizar sua fome, sede, dor, frio e perdas. O grito do PLANETA se estende a todos sem distinção. Hoje, sofrem esses pobres e ricos coitados. E amanhã, quem será? Não esperemos pelo falido “ético/moralmente” poder público desse país. Façamos a nossa parte para que possamos cobrar juridicamente essas irresponsabilidades dos nossos representantes políticos que a cada eleição só pioram o lado social e cidadão do povo brasileiro.

Vicente Freire

18/01/2011

De: Professor Estevam <cemobafluminense@terra.com.br>

Assunto: Fwd: TRAGÉDIA ANUNCIADA.

Para:

Data: Domingo, 16 de Janeiro de 2011, 01h26min

UMA TRAGÉDIA ANUNCIADA: RIO CARVÃO É DESVIADO IRREGULARMENTE EM

ITAIPAVA (RJ) E CAUSA NOVA DEVASTAÇÃO COM AS CHUVAS DE VERÃO

Bia Garcez – artista plástica e advogada.

Estamos vivos, porém ilhados e rodeados por uma destruição nunca vista, causada pelas chuvas desta madrugada e pelo transbordamento do Rio Carvão, afluente do Rio Piabanha, que atingiu diversas casas, entre as quais a minha que fica na Estrada da Divisa 807 – Santa Monica – Itaipava.

(A casa foi inundada, perdemos tudo o que tínhamos no 1º andar (salão de jogos) mesas, cadeiras, sofás, quadros, mesa de sinuca, tapetes, estantes, e não sei mais o que, pois a água e a lama ainda estão com quase 1 metro de altura) e na Biblioteca (vários livros

raros e documentos históricos, além de livros de arte, sofás, cômoda, objetos de decoração, mesas, bi-cama com colchões etc.), pois a água foi a 2 metros de altura. Da casa do caseiro não sobrou nada, pois a água foi até o telhado. O mesmo aconteceu com o nosso depósito de material, onde guardamos máquinas de cortar grama, utensílios de jardinagem, materiais diversos, etc.

Eu tinha acabado de repor tudo que o caseiro perdeu na última chuva no dia 23 de dezembro (TV, cama, colchão, roupas, roupas de cama e banho, utensílios de cozinha, alimentos etc.) e agora vamos tentar refazer tudo de novo, mas já estamos cansados de tantos prejuízos materiais e morais. O nosso caseiro está num quase estado de choque, chorando sem parar, coisa que também fiz por ver tanta destruição daquilo que construí ao longo de 20 anos de trabalho árduo. Meus vizinhos foram todos afetados, muros inteiros caíram, casas vieram a baixo.

As pontes que atravessam o Rio Carvão, dentro da minha propriedade, foram carregadas, só restando a estrutura de cimento e algumas tábuas do piso. Já chamamos a Defesa Civil, a COMDEP, a Secretaria de Obras, a AMPLA, a OI, mas ninguém apareceu, creio que por dificuldade de acesso. Ficamos sem luz e telefone, e só agora a

luz voltou e o telefone começou a funcionar aqui na casa de cima (Atelier Bia Garcez- Rua Prof. Herculano M. Borges da Fonseca 400 – Tel.: 2222-8095), mas lá na casa de baixo (Samadhi – Estrada da Divisa ) estamos incomunicáveis.

No topo das árvores estão pendurados garrafas, saquinhos plásticos, galhos, que vieram através do Rio e da rua, que também encheu e subiu mais de 1 metro. Nossos 5.000 metros de grama sumiram, ficaram cobertos pela lama, assim como nossa horta e todo o 1º andar da minha casa, nossa piscina foi invadida pela lama que desceu da rua de terra. Estamos contando com a ajuda de pessoas da região, trabalhadores, para retirar a lama e os móveis despedaçados e molhados de dentro de casa. Meu marido, meu caseiro e eu estamos trabalhando desde as 7 horas da manhã, quando a água começou a descer e pudemos ter acesso a casa,, porém estamos acordados desde as 3 horas da madrugada quando nosso caseiro nos avisou da catástrofe da qual felizmente escapou com vida. Culpa da natureza ou da imprevisão e inércia dos órgãos públicos???

Contei a vocês (amigos e família) que estive por várias vezes na Prefeitura e na Vice-Prefeitura, inclusive consegui que o Vice-Prefeito, Dr. Osvaldo da Costa Filho, viesse aqui na minha casa há uma semana atrás, para ver todo o risco que estávamos correndo, mas não tomaram nenhuma providência para prevenir a catástrofe que eu previ que iria mais uma vez se repetir nas próximas chuvas e avisei a eles com a devida antecedência para que tomassem medidas preventivas, mas nada foi feito.

O Rio que por aqui passa e transbordou (Rio Carvão) teve seu curso desviado dentro da propriedade do nosso vizinho e presidente da Associação dos “Amigos” de Santa Monica, que se declara à imprensa como protetor do meio ambiente e que faz parte da turma que idealizou e está construindo o “Parque da Orla do Piabanha” com recursos públicos que deveriam estar sendo aplicados na prevenção de enchentes e limpeza e desassoreamento dos rios, contenção de encostas, calçamento de ruas, coleta de lixo e

outros serviços a que fazem jus os contribuintes e a população em geral.

Desde 2002 tenho encaminhado ofícios, e-mails (dos quais guardo cópia), comparecido à Prefeitura de Petrópolis, Secretaria de Obras, Fiscalização do Meio Ambiente e à Subprefeitura de Itaipava

pedindo providências, mas não fui ouvida, nem atendida, pois eles dizem que falta verba, pessoal, caminhões, falta tudo… apesar de estarem me cobrando R$ 6.300,00 de IPTU este ano, para pagamento em cota única com desconto, pagamento este que faço há mais de 20 anos sem nenhum retorno, pois minha rua – logradouro público –

(Prof. Herculano M. Borges da Fonseca) é de terra e não tem manutenção. Estamos atolados na lama, ilhados, esgotados, revoltados, temendo por nossa saúde e de nossos vizinhos. O carro do caseiro do nosso vizinho foi arrastado para dentro do Rio Carvão e ficou preso numa galeria que outros nossos vizinhos construíram sobre o rio, para evitar que as águas do rio (cujo curso foi desviado e, por conseguinte, teve sua velocidade aumentada) invadissem suas casas. Relatamos este fato à Subprefeitura de

Itaipava para que os órgãos do Meio Ambiente tomassem providências, mas ninguém apareceu para fazer nada ou dar alguma satisfação sobre o desmatamento, construções irregulares, intervenções em rios etc.

Aos amigos e família avisamos que estamos vivos e com saúde para enfrentar o problema e às Autoridades responsáveis pedimos sua presença, providências SOCORRO URGENTE!!! À imprensa pedimos que divulgassem o estado de abandono, por parte dos órgãos públicos, que Itaipava se encontra. À Justiça recorreremos se medidas saneadoras não forem tomadas urgentemente. Maria Beatriz Borges da Fonseca, em meu nome e no nome de todos nossos vizinhos, impossibilitados de fazê-lo pessoalmente.