SOCIOLOGIA DO TURISMO Estudo de caso: Costa do Sauípe – Bahia

SOCIOLOGIA DO TURISMO

Estudo de caso: Costa do Sauípe – Bahia

PONTOS POSITIVOS:

A idéia de reproduzir nas pousadas o Pelourinho baiano é uma forma de manter os saberes e fazeres da comunidade, haja vista, que nessa reprodução há a inserção das baianas com suas comidas típicas no local, é uma maneira de fomentar o aspecto cultural do povo baiano.

A representação dos valores patrimoniais da sociedade brasileira nas pousadas Gabriela, exultando a grande obra de Jorge Amado, Carnaval, fazendo alusão aos trios elétricos e à Praça Castro Alves e a Pousada Pelourinho que exacerba o valor do Centro Histórico baiano, percebe-se a valorização do patrimônio histórico material e imaterial.

Presença de elevada gama de esportes de lazer possibilitando aos turistas vastos leques de escolhas, desbancando o mito de que no Brasil o turista não tem como se divertir.

 Nova manifestação de valorização do patrimônio cultural imaterial são os shows apresentados a noite envolvendo danças e musicas folclóricas da região.

No lado externo, nos arredores do complexo ainda existe remanescentes da mata atlântica, com lagoas de água escura, manguezais, restingas e outros tipos de vegetação características dessa região, entretanto, são tomadas precauções, apenas grupos formados por 20 pessoas fazem o passeio no jipe nestes locais, já percebe-se a preocupação de não levar super populações para o local para não agravar os impactos.

Ainda externamente ao complexo é possível a observação de aves (Bird watching), o que demanda, possivelmente uma orientação aos turistas e visitantes no que diz respeito a preservação da fauna.

Outras atividades externas que possibilitam que o turista conheça o Centro Histórico, o Mercado Modelo e a Igreja de Nosso Senhor do Bonfim, o turista pode ainda conhecer O Projeto TAMAR, que em princípio originou-se com o propósito de proteger as tartarugas e depois viu a necessidade de expandir protegendo as comunidades costeiras.

Ao dirigir-se a praia o turista hospedado no complexo mantém contato com populações nativas do local, existem inúmeros vilarejos e vilas por entre os recortes da Mata Atlântica e neste momento o contato se dá entre visitantes e nativos, neste momento é possível o turista conhecer o artesanato da região, que é feito de palha de piaçava, planta nativa da área.

Observação da vida simples e pacata do povo dos vilarejos, mulheres tecendo artesanato, sentadas em bancos simples e toscos, nessa observação há a interação, a troca, ou seja, a construção do complexo não vedou as possibilidades de interação e relacionamentos dos turistas com a comunidade receptora.

Observou-se também a preocupação com relação aos impactos referentes ao meio ambiente, no que diz respeito a ecologia, a mega construção não deveria ultrapassar a altura dos coqueiros da região, o empreendimento localiza-se dentro de uma APA, as árvores retiradas foram replantadas em outras áreas e o replantio se deu sendo quatro árvores para cada uma que fora retirada.

Preocupados com a desova da tartaruga na região surgiu há 19 anos o projeto TAMAR, onde em sua base há um centro de informações e educação ambiental, a razão deste feito é a concentração de grandes ninhos de tartaruga nas praias do Sauíipe e Santo Antonio. Observou-se a preocupação com a conservação e preservação das espécies.

A colocação das luzes do complexo durante sua construção levou em consideração a proteção para que não houvesse tantos impactos para as tartarugas.

 Com o intuito de evitar a miséria no entorno do resort, houve toda uma preocupação no que concerne a capacitação profissional da população local para assumirem empregos no mega empreendimento, a criação do Instituto da Hospitalidade, entidade sem fins lucrativos, com o apoio de 32 entidades ofereceu qualificação profissional as comunidades.

Desse modo o SEBRAE e SENAC e outras entidades ofereceram cursos de garçons, cozinheiros, arrumadeiras, telefonista, recepcionista e ainda melhorou as atividades relacionadas a artesanatos originais da própria comunidade, agregou valor ao produto existente.

Houve a informação para os nativos das comunidades do que era turismo do ponto de vista econômico e como eles poderiam se beneficiar disso de acordo com o relacionamento que tivessem com as atividades econômicas.

Com isso houve o fortalecimento e diversificação dos produtos artesanais.

Dentro do resort há uma loja de artesanatos onde as trançadeiras vendem o seu produto.

Observa-se a imensa força de vontade por parte da população nativa em aprender, haja vista, que muitos não sabiam escrever, nunca tiveram contato com banheiros de luxo nos interiores privativos do hotel e mesmo assim foram engajados no mercado cerca de 70% das pessoas que participaram da qualificação profissional.

Muitos povos dessas regiões do entorno do resort decidiram não mais migrar para o sul do país em busca de mercado de trabalho e novas oportunidades.

PONTOS NEGATIVOS:

Ampla circulação de estrangeiros, o espaço de algumas pousadas em que remete a idéia de lugarejos interioranos da Bahia, no que concerne aos visitantes não tem aspecto de cidade interiorana, dada a circulação de turistas na grande maioria estrangeiros.

Muitos brasileiros fora do Estado da Bahia desconhecem a existência do complexo (informação que somente quem lê ou estuda pode ter acesso) e tampouco tem condições para visitar tal local, dada as circunstancias econômicas.

Percebeu-se que os povos nativos foram de um pólo ao outro, ou seja, de um lado num determinado momento, viviam uma simples propícia de lugarejos interioranos para depois passaram a uma vida muito aquém das expectativas, como relata o texto “foram do pré-capitalismo para o pós – moderno.Queimaram alguns séculos”. (DIAS, 2003 p.26). A questão é até que ponto isto é saudável ou não?

CONCLUSÃO:

Reconhecidamente, pelo Brasil a fora, sabe-se do trabalho político realizado no Estado da Bahia no que diz respeito à valorização dos seus recursos patrimoniais, tanto materiais quanto imateriais, o governo baiano desde há muito investe na sensibilização de seu povo no que concerne às questões de valorização de suas riquezas sejam elas de quaisquer aspectos, com essa iniciativa o governo sensibiliza quanto ao amor à terra natal e os baianos desde muito jovens tomam consciência acerca de seus valores, tudo numa tentativa de fomento ao turismo, haja vista, que os recursos naturais, patrimoniais e históricos constituem a matéria prima de tão complexo fenômeno socioeconômico.

Não é à toa que o mega complexo do Sauípe se localiza ao Norte baiano, percebem-se forças oriundas de todas as fatias da sociedade culminando com um empreendimento bem sucedido, que apesar de dar vistas de um luxuoso ambiente, o que se poderia pesar num estabelecimento para elites, não representa um turismo segregador na sua totalidade, pois inclui a comunidade receptora que se beneficia com empregos depois de ter passado por um processo de qualificação profissional, percebe-se que nessa iniciativa a população só teve a ganhar, ressalta-se a força de vontade do povo ao se notar que muitos só eram alfabetizados ou nem isso e mesmo assim 70% adentraram para o mercado de trabalho.

Ao se pensar na sustentabilidade da atividade turística, principalmente, no aspecto social da inclusão da comunidade nos processos de planejamento turístico e ao comparar o que acontece na Costa do Sauípe com o que acontece na comunidade de Silves no Amazonas, percebe-se muitas semelhanças, principalmente àquelas concernentes aos benefícios resultantes da atividade para com povo local.

E quando se observa um empreendimento desse teor, trazendo benefícios para o povo local que agregam qualidade de vida, elevada autoestima, preservação, conservação e valorização etc. pensa-se por que tal fato não pode ocorrer em outras localidades brasileiras? Por que outros estados e povos não podem se beneficiar do turismo? E, finalmente por que não fazer um trabalho com base na educação não formal para sensibilizar pessoas quanto à valorização de suas riquezas, tradições, sua história, seu povo, seus saberes e fazeres etc.?

Acredita-se, portanto, que atrás de projetos bem sucedidos no campo do turismo responsável e de qualidade, estão forças e poderes inerentes ao povo, relacionados com uma forte fatia da sociedade, onde o que caminha é somente aquilo que interessa para uma pequena minoria, entretanto, exemplos como o de Silves, Mamirauá e Sauípe tendem a aumentar se conseguirmos construir sujeitos críticos, reflexivos, pensadores acerca de seus direitos e deveres como cidadãos, pode-se estar no início de tamanha transformação, que deverá ser permanente e continuada para a obtenção de tais objetivos.

Patrícia P Ventura
Enviado por Patrícia P Ventura em 21/02/2011
Reeditado em 21/02/2011
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