Meu fantasma

Assistir ao vídeo do garoto australiano que sofreu bullying por tanto tempo até, finalmente reagir me levou de volta ao tempo da minha infância, quando eu própria fui vítima desse mal. Começou quando eu era muito criança, sem motivo nenhum, e estudava num colégio, aos sete anos. Eu não mexia com ninguém mas as outras crianças viviam me fazendo caretas e botando apelidos. Houve vezes em que vinham puxar meu cabelo e me empurrar. Uma vez, mãe mandou cortar meu cabelo muito curto e todos ficaram me chamando de careca pelada. Até hoje, tenho horror de cabelo curto. Havia uma menina que, não sei por que, sempre me beliscava e um que, ao passar por mim, cuspiu no meu pé.Se eu contava em casa, meus pais diziam: "Por que você não bate neles também?" Acontece que eu não entendia por que faziam aquilo comigo. E ficava aterrorizada demais para reagir.

quando fui estudar em outro colégio, pensei que o inferno acabara. Mas foi pior. Um menino começou a meperseguir sem motivo, dando-me murros no estômago, na cabeça e chutes. Os outros o apoiavam e me mandavam bilhetes com palavrões. Também achavam que eu era atrasada por ser mais alta que os outros e já ter seios, embora eu só tivesse oito anos. As meninas me puxavam e apertavam meus seios. Eu contava à diretora, mas, como o pior deles era rico, nunca tomaram nenhuma atitude. Uma vez, ele inventou que eu roubara de uma colega. Meu pai dizia que faziam aquilo porque eu era burra e fraca. naquela época, era horrível. Eu achava que ninguém se importava comigo. Fiquei uma pessoa arredia, demorei a me aproximar dos outros. Ninguém sabe como é você sentir que pessoa alguma quer lhe socorrer.Meu pai diz que eu sou passiva e, aonde eu for, vão mexer comigo. Ou seja, o defeito é meu. quanto ao rapaz que me agredia, eu o apelidei de tumor. Ele dizia que era eu que o irritava. Às vezes, eu me pergunto se eu não tivesse deixado o medo me dominar e reagido, se não teria sido diferente. Há gente que diz que a maior culpa foi minha, que era eu que permitia, mas eu só tinha oito anos e meus pais não tinham me ensinado a me defender. Em casa, eu também tinha medo. aos seis anos, meu pai me deu um murro nas costas sem que eu nada tivesse feito e, quando eu fui reclamar com mãe, ele mentiu dizendo que só tinha me dado um tapinha indolor. O que uma criança pode fazer, se ninguém é por ela?