O VIAJANTE DO CAOS

Um dia ele surgiu na nublada, hostil e estranha terra, era o principio da humanidade, e seu mundo não era nada além do que seus olhos viam, e seu instinto de preservação dizia existir. Nos primórdios ele foi selvagem no amor, ou no que poderia se chamar de relação humana com sua companheira, agressivo ele nasceu, meio Deus, meio demônio entre as criaturas.

Abateu animais à força bruta e alimentou o corpo, e enquanto a mente desenvolvia-se sobreviveu a hecatombes monumentais, a gelada terra foi seu lar, alisou seu rosto nos primeiros sentimentos humanos e o enrugou em sangrentas batalhas entalhando em sua alma o ódio, a vingança, e no desenrugar de sua fronte proveu seu espírito de amenidades, o perdão, o amor e a ternura passavam a fazer parte de seu cotidiano.

Ele foi aos confins do mundo apenas pela aventura de descobrir o que havia lá, além das serras que divisava ao longe e que pelos tempos foi sua fronteira segura, vestiu-se de rebelde e senhor, de fé e descrença, povoou o descoberto e sepultou o insano que a posteridade conheceu através de figuras rupestres, e como homem nunca deixou de marcar sua passagem, ora na gloria da paz, e em outros tempos na desgraça das pestes e das guerras com indelével e imorredoura marca, a evolução.

Este ser que engatinhou em seu lar pôs-se de pé, olhou as estrelas e viajou em seu pensamento a tudo que poderia sonhar, descobriu o átomo, o trabalhou, fez-se destruidor de mundos e ao mesmo tempo redentor na visão simplista de seu semelhante que viu nesta energia meia vida e meia morte, e achou que compensava levá-la ao futuro, esquecendo que só Deus pode ser Deus quantas vezes quiser, e todos somos diferentes na paz e na guerra, cada um em suas incontáveis vidas materiais, ditadas por Deus.

Pra quem porventura vier do espaço sideral na forma de um anjo ou outro ser verá a terra azul como sempre foi, hoje como a milhões de anos, viajamos em direção ao infinito como seres humanos num lindo planeta azul, somos e sempre fomos astronautas, que respiramos a nossa destruição, invisível, trágica e angelicalmente traiçoeira, como as miragens.

Hoje, nesta tarde em que o sol se põe, eu gostaria de dizer a mim mesmo que tudo isto não deveria ter acontecido, mas coloco meu imaginário capacete, e acelero o meu destino, jogando mais carbono no ar, cumprindo meu triste e fatídico destino em direção a eternidade.

Malgaxe
Enviado por Malgaxe em 01/07/2011
Código do texto: T3069300
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