Metáfora para a dor de existir
Wilson Correia
A cesta da vida havia chegado.
E todos ficaram contentes porque,
afinal, receberiam a vida.
Vida abundante como numa
cesta de Natal.
Abriram a caixa que envolvia
a cesta. Olharam bem para
dentro dela. Sim, os produtos
estavam à mostra.
Viram não mais que um
grande punhado de farinha,
sal, óleo, e um pouco de
fermento.
Espantaram-se ao verem que
não havia vida nenhuma ali.
Gemeram, gritaram e
espernearam igual a carneiro
pronto para o abate, e que
ajoelha e chora.
Um menininho de apenas
cinco anos, revirando a
cesta, foi quem encontrou
o bilhetinho: “Agora, que
cada um faça o seu próprio
pão”.
É por isso que, desde então,
Nenhum pão que o humano
amassou é igual ao anterior
que você comeu, nem dele
se exigirá que o de amanhã
seja igual ao de hoje que
você acabou de degustar.