Certezas e incertezas

Dia 21 de dezembro, fez 5 anos que me separei de fato, que saí de minha casa. Em pouco mais que um mês, tomei a decisão, comecei a fazer terapia, iniciei meu tratamento de homeopatia para depressão, que só “descobri” que tinha, há alguns meses, e alguns problemas de saúde física, bastante graves.

Saí de casa, com muitas incertezas e uma certeza. Que, como disse alguém que conheci, estava redondamente errada. Mas, foi essa certeza que se mostrou errada, que me deu forças para tomar a decisão de mudar minha vida.

A certeza era que eu encontraria e viveria um grande amor. Eu estava entusiasmada, eufórica, com a perspectiva dessa nova vida. A euforia não demorou muito a passar. Não tardou para que eu percebesse que estava sozinha, s o z i n h a! Tudo o que eu desejava, era ficar sozinha. Para recomeçar, só que para recomeçar, a gente pretende fazê-lo a dois.Isso parece meio incoerente, mas para mim, estava tudo certo. Bem que meu psicólogo me preparou, indicando filmes, pedindo que eu fizesse roteiros de minha vida, dali para frente, calendário de atividades, para preencher os dias.

Levou algum tempo, sempre com os pés bem firmes no chão, até eu estabelecer prioridades financeiras, para estabilizar essa parte. Tenho uma certa facilidade de recuperação, no campo emocional. Não fico muito tempo me lamentando. Não deu, paciência, vamos adiante para ver o que vem por aí.

Cerca de oito meses depois, já mais estabilizada, ainda meio receosa, comecei a navegar na Internet. Conheci o maisde50, no cursinho de informática, através de outro site. Comecei a visitar o mural, deixei recado, recebi algumas respostas, algumas pessoas meio doidas, querendo namorar, cerceando desde logo, mesmo não conhecendo. Ia ao Chat, mas não encontrava ninguém, quando me informaram que a turma se reunia depois da meia-noite.

Também coloquei perfil em vários sites, desses que falam ser de namoros, mas que na verdade, não passam de sites que facilitam, principalmente aos homens, encontrarem mulheres disponíveis. Cheguei a encontrar com alguns. Também com alguns que conheci em chat’s. O interesse deles? Sexo. De graça e relativamente seguro. Procuram coroas, que pensam ser mais tranqüilas, não enchem a paciência depois, quando somem, porque sentem vergonha.

Uma amiga recente, logo na primeira conversa, abriu sua vida, contando de suas dificuldades de relacionamento com o marido, muito acomodado, embora mais novo que ela. Tem dois filhos pequenos e sentia pena deles, por isso protelava a separação.

Lá pela metade do ano, ela contou-me que se separara. Em questão de semanas, já saíra com alguns homens que conhecera na Internet. Estava um tanto desiludida. Comentei que a maioria só quer parceria para uma noite. Aí ela falou desconcertada, que conhecera um homem super charmoso, gatão, segundo ela, a convidara para sair, sugerira que levasse alguma amiga, pois ele levaria um amigo também. Ela convidou uma prima. A prima e o amigo do sujeito, estavam namorando e ele, por sua vez, nunca mais a procurara. E não rolara coisa alguma entre eles dois. Só papo. Ela estava boquiaberta.

Os poucos homens que conheci, não querem envolvimento. Quando percebem que podem vir a gostar, se afastam, sem satisfação alguma. Simplesmente somem.

Se eu não aceitasse a possibilidade de ter feito a escolha de ser sozinha, antes de reencarnar, estaria sofrendo, choramingando pelos cantos. Não me sinto totalmente desiludida por isso. Se houver um cavalheiro encantado guardado para mim, por aí, um dia nos encontraremos. Se não houver, darei meu carinho às pessoas que me rodeiam, que me amam, que necessitam de amor também.

Estou feliz assim, embora às vezes bata a saudade de uma companhia, de um passeio de mãos dadas.

A possibilidade de um novo relacionamento, hoje com mais experiência, assusta um pouco. Geralmente, o possível companheiro tem sua própria família. É algo a ser considerado. É uma situação nova, ao menos para mim. Inserir-se no contexto dele, ser aceita pelos filhos dele, os nossos aceitarem-no, a existência de uma ex-esposa, assim como a do ex-marido, são situações que, na prática, não são fáceis de administrar.

Por isso que falo para as amigas que pensam que separar é o remédio, que demonstram uma certa inveja da “liberdade” de quem se separa, que pesem muito bem os prós e contras. Nossa vida muda por completo. Amigos se afastam, conhecidos nos olham diferente, passamos a ser pessoas um tanto poluídas moralmente, por longo tempo ficam os fuxicos, para ver se aparece o “outro”, familiares ficam cheios de reservas.

Um dos filmes que o psicólogo indicou, foi “A Liberdade é azul”. Mostra que a liberdade é relativa, nunca absoluta.

Manter relacionamentos é arte. E é preciso aprender a valorizar cada instante, ter olhos de ver, tanto dentro do relacionamento, como em torno. Mas, a sabedoria, só o tempo nos trás.