Feliz Ano Novo

É interessante observar as mudanças que nos acompanham e que se operam em nós, com o passar do tempo. Relembrava as festas de final de ano, desde minha infância até os dias atuais.

Quando criança, lembro do badalar dos sinos, o tocar dos apitos e sirenas das fábricas e o espocar dos foguetes. Acho que havia alguns fogos de artifício, que as pessoas de mais posses queimavam. Havia muita alegria pueril e ingênua. E verdadeira.

No interior, nas colônias, existiam os grupos de atiradores que começavam sua romaria pelas casas do lugarejo, na véspera da virada de ano. Não dormiam e só paravam na noite do dia 1° de janeiro. Exaustos, bêbados e realizados. Prontos para voltarem à roça, na manhã seguinte.

Acredito que nem eles saberiam dizer, quantos quilômetros percorriam, durante essa celebração.

Há alguns anos, essa tradição foi revivida na minha cidade, com muitos dos remanescentes daqueles antigos grupos. Fundaram uma Sociedade de Atiradores. Usam espingardas e a munição é pólvora, para cuja aquisição, necessitam de autorização do exército. Algumas das espingardas são preparadas com canos diferenciados, produzindo um estrondo que se ouve a quilômetros de distância. Os atiradores usam de várias encenações, como cambalhotas, para demonstrar a força dos tiros. Sempre há a bandinha, homens vestidos de mulher. É como um grupo de teatro mambembe.

Não conheço o significado dessa tradição. É uma saudação ao Ano Novo.

Na minha juventude, costumávamos ir ao baile de Ano Novo, na “Sociedade”. Era um baile familiar. À meia noite, parava tudo. Era a hora do brinde coletivo. Muito simples, alegre, e a com_fraternização era genuína. Todos se conheciam. Brindávamos com Frisante, depois o baile prosseguia.

Muitas famílias preferiam permanecer em suas casas, até após a virada. Comiam o tradicional prato de lentilhas e após, iam ao baile também.

Essa festa, com o passar do tempo, foi substituída pelas festas particulares e a tradição se perdeu.

Acho que perdemos todos. Em sociedade, havia certos limites que na privacidade, são esquecidos. Comemos demais, bebemos demais, perdemos a noção do lícito, do aconselhável, da responsabilidade. Para muitos, resta a lembrança de momentos a lamentar, para o resto do ano, quando não, para o resto da vida.

Vejo as grandes festas públicas e me emociono. São festas lindas. Sinto a vibração positiva dessas milhares de pessoas, que procuram nessa alegria coletiva, a esperança.

Desejam paz, amor, saúde e dinheiro. Brindam à vida. Essa força descomunal, não deveria se desfazer, ao raiar do dia 1°, quando cada uma daquelas pessoas despertar do verdadeiro êxtase à que se deixaram levar.

Essa mesma força deveria continuar vibrando, na mesma sintonia coletiva e a paz se faria. Com a paz, viriam a saúde, o amor, o progresso. E brindaríamos à vida, nos 365 dias do ano.

Feliz Ano Novo a todos.

31/12/6006