Estou nú

Escrever na primeira pessoa é algo meio assustador. Mas hoje deu vontade. E pensei comigo: sobre o que falaria, do alto de meus 34 anos? Se já não sou adolescente, também não sou um respeitável senhor que possa delimitar verdades inspiradoras a quem ainda está chegando nesse mundo.

Não sou um escritor. Apenas brinco com as letras, invento formas por vezes estranhas ou enigmáticas de dizer aquilo que todo mundo sente ou aquilo que todo mundo sabe. Mas que às vezes não podem ou não querem ver. Mas não é sobre estilos literários ou sobre as dificuldades de entendimento que as pessoas têm que quero falar. E sim sobre o que está exposto em mais de 900 textos, em sua grande maioria poemas, que publiquei aqui: a caminhada. Porque sim, tudo o que escrevo aqui é auto-biográfico. Não sei descrever situações ou coisas nas quais não acredito, nem falar daquilo que não me diz nada. Por isso, a excessiva utilização de imagens musicais, de obras de arte, de elementos da física, química e matemática e do universo da moda também. E o mundo da moda, aliás, é minha profissão. Sou estilista. Mas antes disso, eu trabalhava com química, minha outra paixão.

Fato é que, relendo o meio primeiro poema publicado, que se chama “fardo”, parece meio irônico e quase profético que tenha chegado depois desses anos todos com vários deles nas costas. Na nossa caminhada, acho que apenas trocamos os fardos. Pessoas entram e saem de nossa vida, acreditamos e deixamos de acreditar em muitas coisas, amadurecemos em algumas coisas, nos tornamos irredutíveis em outras...mas faz parte do caminho.

O que percebo claramente, é o quanto mudei ao longo desses anos, desde o primeiro poema e quanta coisa aconteceu. Me lembro que no começo de tudo, tive quase que uma guerra com um escritor aqui do RL. E muitos poemas provocadores, que ainda estão aqui, eram direcionados a ele. Hoje, esse escritor é mais do que meu melhor amigo. É o irmão que escolhi. E muitos poemas são dedicados a ele. O caminho surpreende muito...

Mudei de profissão ao longo dessa história toda, e saí de um laboratório para o mundo da moda. Incrível o impacto que isso teve na minha estética. Mudei totalmente a maneira de ver o mundo. Se antes eu buscava poemas equilibrados e quase assépticos, passei a usar recursos dramáticos e violentos para expressar o que sentia. Confesso que ainda hoje, gosto do mundo lógico da química para expressar aquilo que é inexpressável. É um mundo menos traiçoeiro e relativamente mais previsível. Mas não menos hermético e até enigmático.

Falar do caminho, é falar um pouco do futuro também. Claro que não tenho bola de cristal, nem tenho talentos exotéricos Mas o futuro que sempre quis, está também desenhado em meus escritos. Alguns sonhos se realizaram, outros ruíram vergonhosamente. Mas sobrevivi. Estou aqui para contar a história. E é isso que importa.

Nesse tempo todo, já me envolvi em muitas pequenas contendas, por conta de minhas opiniões, ou por conta da maneira crua e sem maquiagem com que escrevo alguns textos. Isso serviu para me tornar mais atento. E principalmente me colocou numa situação interessante: ou eu fazia concessões para agradar a todos, ou assumia o risco de dizer o que penso, seja correto ou não. Preferi a segunda opção e isso significou um número limitado de visitas. Mas nunca me importei com isso, pois os poucos que vinham e comentavam, eram também pessoas que eu admirava e acima de tudo, pessoas cuja inteligência me inspirava.

E por falar em inspiração, nada me inspirou mais nesse caminho torto da escrita do que as pessoas. As pessoas são universos infinitos, absolutamente fascinantes. Claro que já me inspirei em máquinas, objetos e tudo o mais para escrever. Mas nada é mais instigante que o ser humano. E nesse universo, cabe de tudo: pessoas que amei, artistas, cientistas, amigos....tem de tudo. E certamente, talvez nem os próprios ao lerem percebam que estão ali retratados. É que faço questão de reconstruir a imagem até o limite da abstração. Isso porque a descrição literal é sempre sem graça e pobre. E também porque como já disse, o ser humano é um universo. E aí surgem meus personagens que tanto prezo: o arqueiro da noite, Alice, Heitor, Marianne, o Oitavo imperador....e uma infinidade de seres que dormem e acordam comigo. Tanto que alguns eu tive de assassinar, para poder seguir adiante.

Acho que caminhar é justamente isso. Os fardos sempre estarão nos nossos ombros. Nós os trocamos ao longo da vida, mas no fim é bom saber que os fardos não necessariamente significam coisas ruins. São um acúmulo de aprendizados, gostos adquiridos, pequenas alegrias, conquistas...

Não sei o que será o futuro, nem me interessa saber dele agora. Sei que estou indo. E tudo o que seu escrever, sempre será um registro da minha vida. Fico curioso para saber o que vem pela frente e por isso, estou fazendo o que posso de melhor agora. Errarei bastante ainda, mas acertarei na mesma proporção. E certamente surgirão novos personagens. Seja na vida real, seja na virtual, seja apenas em minha mente. Fato é que dizer tudo isso me torna livre. Livre e até feliz como me sinto agora. Isso porque descobri a pouco tempo que minha mente é ilimitada. Até mesmo para fazer do meu caminho o que eu quiser.

Aqui no RL, muitos fazem parte dessa minha caminhada. E agradeço a todos que foram sinceros e gentis comigo. A todos que me incentivaram de alguma forma a escrever, e até mesmo aos meus críticos mais ferozes. Sinceramente, tenho até grande simpatia por eles, afinal de contas, me fizeram abrir os olhos pra muitas coisas.

Bem, vou continuar o caminho...

A todos, um abraço.