Um momento de reflexão

Por reconhecer-me e conhecer-me como um espírito em busca do aperfeiçoamento, por reconhecer e conhecer alguns de meus inúmeros defeitos, por reconhecer e conhecer meus fracassos, mais constantes talvez, que meus sucessos, algumas palavras do nosso cotidiano, vêm soando de forma mais e mais intermitente em minha consciência.

Como aprendizes do Evangelho, como disseminadores em potencial, da doutrina Espírita, como trabalhadores da Seara do Mestre, usamos a todo instante de palavras, que tomadas como exemplo de nossas atitudes e posturas, diante do nosso agir e viver diário, acabam soando vazias. Incoerentes para com nossas próprias atitudes e sentimentos.

Enchemos a boca, orgulhosamente, pregando a Benevolência para com todos, Caridade, Fraternidade, Perdão, Relevar, Tolerância, humildade.

Quando somos as vítimas, usamos desses sentimentos com o mesmo peso que os aconselhamos aos outros, quando julgamos que eles estejam agindo mal?

Quem nos autoriza a julgamentos? Quando criticamos a crítica de alguém, não estamos nos colocando no mesmo patamar de quem criticou?

Guardamos mágoas, ressentimentos, rancores. Esquecemos do perdão, quando somos nós as vítimas. Onde fica a caridade, a fraternidade, a benevolência, quando continuamos a amargar um sentimento de revolta com relação a aqueles que pensamos terem agido mal conosco? Onde está a humildade, a aceitação, a resignação?

Falamos de boas intenções, quando tentamos nos justificar de nossos tropeços, mas admitimos as boas intenções dos que pensamos terem agido sem elas, conosco?

Como podemos conhecer os sentimentos daqueles que pensando no bem geral, talvez, tenham tomado atitudes que nos parecem arbitrárias?

Relevamos os motivos? Somos benevolentes? Lembramos que essas pessoas também, por sua vez, vivem dores, sofrimentos, perturbações? Perdoamos? Tentamos entender suas razões?

Por um momento, tentamos ver em nós, motivos para que ajam conosco, como agem? Ou continuamos nos vendo eternas vítimas, injustiçadas?

Façamos uma introspecção. Mergulhemos no nosso íntimo, busquemos as nossas máscaras, aquelas que de tanto usar, pensamos ser nossa fachada real. Sejamos sinceros conosco mesmos. Ouçamos a voz de nossa consciência. Sem culpas, mas sejamos sinceros. Por quê desejamos sinceridade, mas quando a usam conosco, entendemo-la como injusta?

Somos hipócritas, usamos a crítica de modo tão sutil, que não percebemos que, constantemente, estamos julgando a todos. Porque ainda nos desconhecemos. Mesmo afirmando nossa condição de humildes aprendizes, abrigamos a imensa vaidade e o desmedido orgulho de tentarmos ensinar aos irmãos, o que ainda estamos longe de saber, ou melhor, praticar.

Usemos da caridade para conosco, tentando aprender mais sobre nós mesmos. Perdoemo-nos, mas sem sermos coniventes e reincidentes. Se desejamos que nos relevem erros, antes examinemos se nosso erro poderia ter sido evitado se tivéssemos refletido melhor. Se esperamos benevolência, tentemos agir de acordo com nossas palavras. Se desejamos tolerância, ajamos de modo a merecê-la, refletindo sobre nossas atitudes, antes de agir, consultando nossa consciência antes, para que ela não nos culpe depois.

Sempre que alguma atitude ou palavra me faça pedir desculpas, é porque sei que agi mal. Tendo sido executada a ação, pedir desculpas reflete a consciência do erro. Mas, reconhecer o erro, não impede suas conseqüências.

Agir sem pensar, nos faz pensar. Às vezes, tarde demais.

Reflitamos sobre isso.

Vitória Lerinha. 17/01/2007