Entre pessoas e pessoas

Wilson Correia

Rapaz... como é engraçada a vida!

Como são complexas as pessoas!

Existem as pessoas tóxicas.

Existem pessoas covardes, que avaliam qual a melhor posição para elas estarem situadas; e que tomam o partido, não de uma ideia, de uma bandeira, de uma causa, de uma luta, mas, sim, o partido do “mim mesmo sempre e sempre por e para mim”.

Existem pessoas insensíveis, que perderam aquela fineza que nos faz humanos cultivados, leves, amigos, que, de fato, “comem do mesmo pão” (companheiros).

Existem pessoas manipuladoras, como se os outros não fossem suficientemente hábeis e minimamente inteligentes para detectarem suas artimanhas, seguidamente repedidas e cansativas, quais práticas realizadas sempre ao largo da boa educação.

Existem pessoas mesquinhas. Elas desconhecem que só a “vida boa” pode justificar a “boa-vida”.

Existem pessoas que fazem questão de exigir dos outros todos os “favores”, todas as “ajudas”, mas que, egóicas e obtusas, não abrem mão sequer para dar um “tchau!”, “mangueadas”, “aproveitadoras” e “interesseiras” até o osso.

Existem pessoas que passam longe do “saber reconhecer” o que recebem dos outros.

Existem pessoas que não dizem “muito obrigado!”, nem sabem o que é gratidão.

Existem pessoas que não pedem “por favor”, “por gentileza”... Esquecem-se da boa educação.

Existem pessoas que não pedem "desculpas"

Existem pessoas que se acham no direito de não andarem direitas exatamente com quem quer exercitar a generosidade, a solidariedade e a bondade para conosco.

Existem pessoas que se julgam as únicas no mundo, razão pela qual, ao não tirarem o olho do próprio umbigo, não conseguem olhar no olho do semelhante, nem reconhecer o esforço de outrem para escolher o caminho nutritivo e rechaçar o percurso tóxico das relações interpessoais.

Existem pessoas que vivem no mundo do companheirismo perdido, razão pela qual não sabem ser hospitaleiras, acolhedoras e gentis.

Existem pessoas que, tais como sanguessugas, não praticam a reciprocidade.

Por existirem tantas pessoas assim no mundo, na sociedade, ao nosso redor, o cultivo do humano pelo humano se torna um desafio, um constante desapontamento, um ininterrupto processo de espanto e estarrecimento.

Existem as pessoas nutritivas.

Mas é por existir pessoas tóxicas assim no universo que a presença das pessoas nutritivas se torna, sempre e sempre, a mais necessária, urgente, imprescindível e vital.

É por acreditar nesse segundo tipo de pessoas que vivo para a educação e aposto na filosofia, procurando não “viver delas”, mas, sim, “para elas”.

Que, em troca, a filosofia e a educação me façam ter a sorte de sempre estar cercado pelas pessoas nutritivas: em meio a elas é que podemos encontrar os sentidos do viver, experimentar as alegrias triviais e fazer dos pequenos gestos grandes momentos.

Afinal, a vida é muito curta e nela não cabe nenhuma mesquinharia.