O que Deus tem contra o prazer?

A ideia superficial de servir a Deus é de certo ascetismo, privação de bens, alegrias, como se fosse Ele, Deus, um desmancha prazeres.

Mas não é isso? Cristo não chama à autonegação tomando a cruz? Chama. Diz mais: “Quem perder a vida, achá-la-á.” Ainda assim, o prazer não nos é vetado.

Dada a dualidade estabelecida após a queda do homem, a felicidade deixou de habitar a terra, pois, nos prazeres ilícitos estamos contra Deus, nos outros, somos atacados pelo diabo, de modo que a plenitude aguarda no porvir.

Deus não nos veta o prazer, antes, quer fazer parte dele; “...mas fizeram o que era mau aos meus olhos, e escolheram aquilo em que eu não tinha prazer.” Is 66; 4

Claro que, o prazer de Deus é espiritual, afinal, “Deus é espírito”, por isso, Paulo acentua a separação dos prazeres naturais daqueles. “Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo.” Rm 14; 17

O que o Senhor propõe mediante o Salvador é o prazer original da comunhão em submissão, que foi perdido, quando do brado de independência sugerido pelo inimigo. “Vocês decidem o bem e o mal” Propôs. Ao dizer: “Negue-se e siga-me” O Salvador restaura a ordem das coisas.

A maioria do que esse mundo valora como prazer não passa de dissolução, às vezes, mera necessidade fisiológica. Nada saudável é vetado, apenas, seu desfrute é disciplinado segundo quem de direito, o Criador.

Por mais que alguém se apresente como livre pensador, não poderá estar “não alinhado” como a Suíça. Ou estamos de acordo com Deus, ou, ainda que indiretamente, lhe faremos oposição.

Como disse o pré-socrático Estobeu; “termina com má fama quem quer duelar contra o mais forte.” Deus mesmo desaconselha essa luta inglória: “Não há indignação em mim. Quem me poria sarças e espinheiros diante de mim na guerra? Eu iria contra eles e juntamente os queimaria. Ou que se apodere da minha força, e faça paz comigo; sim, que faça paz comigo.” Is 27; 4 e 5

Feita essa paz mediante Jesus, Ele decide outra vez, sobre o bem e o mal, e nesses termos, se responsabiliza por nós. Não é de pouca importância a frase dita desde os céus, por ocasião do batismo de Jesus, pois; “Este é meu filho amado, no qual eu tenho prazer”.

Daí, reconduzir nos a uma relação de comunhão consigo, é o prazer de Deus. Os que dão esse passo, e são cheios de Espírito Santo, começam a conhecer a leveza e preciosidade do prazer espiritual.

Quando nos veta o Eterno, coisas ilícitas, o faz em face às consequências, não para nos privar de algo bom, como Ele mesmo ensina: “Dize-lhes: Vivo eu, diz o Senhor DEUS, que não tenho prazer na morte do ímpio, mas em que o ímpio se converta do seu caminho, e viva. Convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos; pois, por que razão morrereis...” Ez 33; 11 Afinal, ensina Paulo: “O salário do pecado é a morte” Rm 6; 23

O que desfruta vida espiritual, já não consegue veraz prazer nas coisas pecaminosas, pois, ainda que o corpo possa responder favoravelmente, a culpa danificará a alma e ferirá o Espírito.

Muitas enfermidades psicossomáticas derivam desses pesos não tratados da alma, que acabam atingindo seu invólucro, o corpo.

Ninguém reclama do acabamento de um prédio em construção, pois, não o pode ver; de igual modo, é precipitado aquilatar a relação com o Senhor em face aos dissabores da vida.

Aqui é lugar de plantio; a colheita promete acabar com a ideia que a felicidade não existe, afinal, está dito: “E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas.” Apoc 21; 4

"Ah! Dentro de toda a alma existe a prova de que a dor como um dardo se renova quando o prazer barbaramente a ataca..."

( Augusto dos Anjos )