Repúdio à indiferença para com a educação

Wilson Correia

O contrário da vida não é a morte, mas, sim, a indiferença.

Quando valentes professores e professores estaduais suportam greve, sem salário, há mais de cem dias;

Quando professores, servidores técnico-administrativos e alunos sustentam uma greve federal por mais de 70 dias;

Quando ameaças de corte de ponto e de substituição de servidores federais por “equivalentes” estaduais ganham aparente legitimidade por meio de decreto de cujo teor nem mesmo a ditadura ousou lançar mão;

Quando servidores, alunos e técnico-administrativos das instituições federais de ensino reivindicam reestruturação da carreira docente, infraestrutura de qualidade nas instituições federais, reajuste real e no tempo hábil para que ganhos reais não sejam corrompidos pelas variações econômicas, carreira docente decente e paridade entre servidores da ativa e aposentados;

Quando o Estado brasileiro concede o valor de 17 bilhões de incentivos fiscais a instituições privadas do ensino superior;

Quando o Estado brasileiro destina a quase metade de nosso Produto Interno Bruto para sustentar uma dívida fictícia, que ninguém sabe quem é credor e quem é devedor, simplesmente porque inventada pelo mercado financeiro;

Quando uma copa do mundo exaure as burras estatais; em uma clara demonstração de priorização do supérfluo e de secundarização do que é vital (segurança, saúde e educação);

Quando a opção não é pelo que realmente sustenta o desenvolvimento de um país, a educação, mas, sim, pelo que de mais comezinho, em termos materiais, se apresenta como supostamente “urgente” e “necessário”;

Quando nossas autoridades, em meio a uma greve, preferem viajar a entabular tratativas para resolver greves federais e estaduais que trazem prejuízos incomensuráveis à sociedade brasileira;

Quando “ficar sem aulas” por conta da desfaçatez, da insensibilidade e da cegueira governamentais se nos apresenta como fato que a ninguém diz respeito;

Quando fica clara a opção pelas coisas, e não pelo humano, em uma escolha que impera, absurdamente, sobre nossas cabeças e comanda nossas ações;

Quando a confusão dos espíritos se nos apresenta como a muralha imponderável, intransponível e fatídica, a ponto de nos apequenar até não mais poder...

Essa é a hora do repúdio.

E é isso o que destilo aqui. Se não queremos ser “humanos”, sejamos, ao menos, “animais irracionais”, não humilhemos, gratuita e covardemente, aqueles a quem devemos proteger: ao nosso próprio ser.

Sejamos humildes ao menos uma vez: negociemos!

Sejamos sensatos ao menos uma vez: demos à educação o valor que ela realmente tem.

Repudiemos, como toda nossa força, qualquer tipo de indiferença para com a educação! Sem ela, nenhum homem e nenhuma mulher podem ser o que, de fato, são.