O ESPELHO
 
 
                    Pela manhã, ao atravessar um longo corredor espelhado olhei-me várias vezes enquanto caminhava. *(1)
                    Nada visualizei ou percebi de anormal e continuei o meu trajeto ao encontro dos meus afazeres diários.
                    O dia transcorreu normal como de costume. Trabalhei, organizei os meus compromissos profissionais, destrinchando as minhas tarefas. *(2)  
                    À tarde, após o expediente retornando para casa pelo mesmo trajeto olhe-me no espelho novamente. *(3)
                    Senti então certo desconforto. A imagem ali refletida era diferente daquela da manhã.
                    Parei e fitei-me de todos os lados e ângulos. Tinha algo que me incomodava bastante, porem não identificava.
                    Insisti olhando-me nos olhos e bem lá no fundo de cada pupila notei que o tempo e as suas travessuras foram implacáveis comigo.
                    Naquele espelho de tamanho aumentado, notando os meus cabelos grisalhos me conscientizei que realmente a validade do meu passaporte aqui na terra está por cessar. *(4)
                    Conselho de um amigo: Nunca pare de frente a um espelho para nele procurar algo ou se auto-procurar. Se o fizer esteja preparado para surpresas e fortes emoções. Limite-se a recompor os seus retoques habituais e nada mais.
                    O espelho reflete os momentos de ontem, de hoje e do amanhã. Poderás não gostar.
 
 
 
 
*(1) Início da vida.
*(2) Trabalhando e vivendo cada momento.
*(3) Já percebendo a terceira idade ou velhice.
*(4) Vendo a proximidade do fim da vida terrena.