O tempo perdido em nossas vidas

Gastei anos olhando-me no espelho sem exergar imagem alguma. Gastei um tempo, para mim infinito, investindo em ilusões que só existiram no imaginário do meu ser, tola romântica apaixonada que acredita nas pessoas. Embora minha intuição gritasse todos os dias, não dei confiança. Fui a mais surda das surdas; a mais cega das cegas. Difícil admitir, mas, com tanta experiência e sensibilidade deixei-me enganar. E, como se não bastasse, arrastei-me mais um tempo ainda na tentativa de não ver o que sempre fora visível.

É difícil saber o que vai na alma de uma pessoa e, por mais que os olhos espelhem, vemos aquilo tão somente que queremos ver. E o meu querer quis enganar. Mascarou utilidade em remissão; Ficcionou desejo em incondicionalidade; conveniência em humildade e mansidão.

Qual amor não perdoa o que se tem para perdoar? Qual amor não oferece o benefício da dúvida para que tudo seja esclarecido? Melhor, qual amor acredita em evidências nada comprobatórias? Não há. A própria insegurança balança as estruturas e incomoda a auto-estima, mas o sentimento continua firme. O amor é incondicional sempre. O diferente disso é, antes, uma tendência em justificar a si e a outros as próprias escolhas covardes, a total falta de caráter e retidão.

Mas a vida não é de todo madrasta e sempre traz alívio para as almas em expiação: para toda donzela chacinada, há um cavaleiro bravo, valente que dedica o seu amor e perdoa, numa demonstração de grandeza, tudo a que foi submetido. A pena é que quase sempre faz-se um reconhecimento bastante retardado do fato. Durante muito tempo não consegui ver o cavaleiro antes do dragão.

Hoje tudo me é claro e, se antes já havia arrependimento pelo caminho tomado, agora ainda mais. Dias, meses, anos....tudo em vão, tudo perdido na sordidez do caráter obscuro e obscurecido. O lobo em pele de cordeiro....

O que dói é saber que dormimos o sono do faz de contas para acordarmos na tempestade dos pesadelos insólitos; um amanhecer num furacão de sentimentos...Simplesmente, um "boa noite, Cinderela" que deixou em coma um coração já doente.

Sol Galeano
Enviado por Sol Galeano em 21/08/2013
Código do texto: T4444504
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