SUA JANELA

 
Numa cela da cidade de Colônia, Alemanha, depois da Segun­da Guerra Mundial, alguém encontrou essas palavras escritas na parede:

“Acredito na existência do Sol, ainda que ele não brilhe;
Acredito na existência do amor, ainda que não o sinta;
Acredito em Deus, ainda que Ele esteja em silêncio.”
 

Lembrei-me de uma história que ouvi certa vez de dois homens que estavam internados no hospital, um estava no leito que ficava de frente para janela e outro tinha quebrado as pernas e seu leito era de costas e não podia ver nada.
 
O que podia ver a janela estava com uma doença muito grave e seus dias ali já eram rotineiros, mas não se abatia, tinha um semblante sereno e uma tranqüilidade ao falar, sempre com a voz amiga a quem viesse até ele para conversar...
 
O outro chegou de um acidente, com as pernas quebradas e não podia andar isso o fazia resmungar de minuto a minuto, mais depois de um tempo os dois fizeram amizade, o paciente do canto perguntou ao companheiro:

- Amigo? Olhe da sua janela e me diga como está o dia lá fora?

O amigo respondeu: - Está um dia lindo! Crianças brincando na praça, pássaros voando alegremente, as árvores completamente floridas, tudo está muito verde e o sol está brilhando.
 
- Nossa! Que lindo!!! Não vejo à hora de estar lá fora.... E assim no decorrer dos dias sempre perguntava ao seu amigo do tempo e ele sempre descrevia como numa poesia, falando as coisas boas que sentia ao ver sua janela...
 
Até que um dia ao acordar pela manhã, ele chamou:
 - Amigo? E aí como está o tempo hoje... Nenhuma resposta...

Ao passar a enfermeira perto do leito, perguntou:

 - O colega do leito aí atrás onde está?

 - Não sei te falar... Acabei de entrar no plantão agora, talvez tenha sido transferido ou foi fazer algum exame, só me informaram que o leito está desocupado...

 
Mais que depressa, o paciente falou:
- Por favor, me passe para o outro leito, prefiro a outra posição.

- Tudo bem, se vai se sentir melhor! Ajudou-o trocar de leito, em seguida ele falou:

- Enfermeira abra, por favor, a janela, quero ver como está o dia...
 
Ela atendeu ao pedido e abriu as cortinas, mais ao tentar abrir a janela...Viu uma parede de concreto na sua frente e falou:
 
- Lamento! A janela deste quarto não dá visão de fora, tem um murro aqui...
 
Passou o dia todo chateado e não entendeu porque o amigo mentiu para ele da visão da janela... Até que a noite chegou, outra enfermeira plantonista veio e o cumprimentou:

- Como tem passado?

- Melhorando...

- Acredito que amanhã cedo o médico irá te dar alta.

- Lamentável o que ocorreu com o seu colega de quarto.

- O que foi...

- Ele estava com câncer terminal... Esta noite não resistiu... Lamento.
 
Sentiu um aperto no peito, uma vontade de chorar... E pensou:

-Poxa vida! Eu reclamando tanto de tudo aqui, vou entrar de alta amanhã e o cara já sabia que ia morrer, mesmo assim me contava da vida lá fora, mesmo ele não tendo mais direito de viver...
 
Como você vê ao seu redor?
Não consegue ver as flores que nasce no seu jardim?
Ou só ver as ervas daninhas...
Não consegui ouvir o canto dos pássaros ao seu redor,
Ou só consegue ouvir a poluição sonora...
 Não consegue sentir o quentinho do sol matinal,
Ou só reclama do sol escaldante do meio-dia?

Tudo depende dos olhos de quem vê...
A beleza sempre vai estar em algum lugar...
Depende de como você abre sua janela.

 
Como o prisioneiro que estava na cela, não podia sair... Não podia sentir o calor do sol... Não tinha amor...
E não tinha Deus... A janela dele também era de concreto... Mais sabia que tudo existia... Mesmo que ele não possuísse.

 
Somos livres, saldáveis... Para ser feliz, depende apenas de abre sua janela da vida, da sua alma... E sentir que o amor de Deus é cuidado, é natureza, é beleza...
E nosso maior presente é de ser livre:

- É viver... Vida é nosso maior presente!
 
 
De dentro do meu ser: Leti Ribeiro