Luz de menos, dia de mais.
Um trovão bagunçou a tarde.
Um trovão que durou mais que o normal.
Três minutos numa distância a mais de 80km, levaram duas vidas embora.
Duas vidas que acabam, e mais de cem que são destroçadas inesperadamente.
A escuridão toma conta e ninguém sabe exatamente o porquê.
A noite se prolonga e as estrelas, nunca percebidas, são como imãs para os olhos.
Céu e terra, são um só. Não há nada, a não ser as chamas de velas que iluminam salas, cozinhas e proporcionam um contato humano, real, quente, próximo, sincero.
Espaços não explorados, conversas adiadas, silêncio torna-se oração.
As ruas estão quase vazias. Nos olhares a mesma esperança. O mesmo desejo.
A vida segue, em velocidade reduzida. A vida é vivida, em segundos que parecem anos.
A manhã demora a chegar, todos dormem cedo.
Muitos são castigados pelo vício à tecnologia, mas ninguém morre.
A comodidade nesse caso é maravilhosa, pois aprende-se a dar valor à outras coisas.
Poucos reféns do vício têm a consciência desse presente. Poucos vão agradecer pelo som daquele trovão ter levado apenas a luz.
A tristeza instalada não muito longe dali, junto ao retorno da energia, deixará marcas que nem o maior tempo do mundo irá curar. Vidas levadas por um tornado.
Mas a vida segue, com ou sem luz. O material se constrói de novo.
A lição foi escrita, lida e armazena quem fez o dia ser demais!