COISAS DE CRIANÇAS

 
           Quando criança, eu tinha muitas ideias. Com alguns brinquedos e muita imaginação, inventava mil e uma brincadeiras e trapalhadas! E algumas bem maluquinhas. Um dia, sem saber do que brincar, peguei minhas bonequinhas, chamei minha irmã e uma vizinha: Vamos fazer um batismo de bonecas! Um culto bonito, com música, e até bolo no final! Elas adoraram e, em alguns minutos, lá estávamos nós... no meu quintal, com as bonecas.

          De repente, pousou um pensamento em minha mente... O batismo não seria somente para adultos? Mas logo me lembrei... Jesus disse "Deixai vir a mim os pequeninos, porque dos tais é o reino dos céus". Bem, se Jesus falou que o reino dos céus é das criancinhas, tá falado. E, refletindo melhor... por que não batizá-las? Oras bolas...  Então não seria errado brincar de batizar nossas filhinhas.

          Todavia, num rasante, passou pela cabecinha o que meu pai, pastor evangélico dos mais tradicionais, dizia e repetia... repetia... repetia: "Não tomem o nome de Deus em vão", "Não brinquem com coisas sagradas", "Cuidado: com Deus não se brinca".  Assim, para essa brincadeira, eu precisaria colocar a caixola para funcionar...

          Antes de comemeçarmos a festinha, porém, combinamos de fazer os preparativos... Improvisamos um altar com um banquinho e colocamos um potinho de plástico com água (batismo presbiteriano para não estragar as bonequinhas). Fizemos uma mesinha com caixa de papelão, coberta com um pano-de-prato para a recepção. A diversão maior, na verdade, foi fazer o bolo de barro e o enfeitar com florzinhas. Lembro-me que ficamos muitíssimo orgulhosas dele.

          Bom, depois de tudo isso pronto, eu mesma dei a abertura agradecendo a presença da minha irmã e da vizinha. Cantei uma musiquinha e comecei a ministrar o tão esperado batizado. Pedi às meninas para pegarem as bonecas no colo, e fiz algumas perguntas a cada uma: Promete cuidar da boneca "fulaninha de tal", de ler as histórias da Bíblia para ela e orar com ela todas as noites antes de dormir, promete? E cada uma precisou dizer de forma contundente: "Sim, prometo!".

          Feito isso, peguei o potinho com água e molhei a cabeça de todas as bonequinhas. Para cada batizado, eu me lembro como se fosse hoje... fiz um sinal da cruz todo embaralhado e declarei, estufando o peito: "Em nome do galo, da galinha e do pintinho!" e, abanando os bracinhos, soltei com vontade um "Có, coró, cocó!", porque amém, para mim, era uma palavra sagradíssima também.

          Hoje dou risada sozinha ao rememorar algumas façanhas que fazia... Velhos tempos, belos dias. Coisas de crianças...

         Entretanto, muito me aborreço ao constatar que tantos e  quantos... adultos se divertem mesmo brincando de "igrejinha". Tomam o nome de Deus em vão, para o seu bel e vão prazer, dizendo que Deus falou, quando não falou; que Ele prometeu, quando nada "daquilo" prometeu; "embaralhando" o que dizem as Escrirturas Sagradas, tomando textos isolados, aplicando sobre eles interpretações equivocadas, visando benefício próprio; brincando com os sentimentos, ingenuidade e, pior, com a fé de muitos; sentindo-se os donos de tais  "brincadeiras". 

          Esses tentam manipular e controlar vidas alheias, fazendo de pessoas seus brinquedinhos. Totalmente cegos, preocupados somente em satisfazer seus caprichos e alimentar seus egos; coisas de crianças... espirituais! Triste é que... as lições elas sabem de cor, resta-lhes somente aprendê-las.

          Quanto a mim, desejo crescer todos os dias na graça e no conhecimento do Senhor. E peço a ele que me ajude a pratirar seus maiores mandamentos e ensinamentos: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a mim mesma. E também a fazer discípulos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém!!!

Um abraço e um beijinho poético em sua alma.

Este texto faz parte da minha Coletânea "Asas de Mim", Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.
Alada
Enviado por Alada em 12/10/2015
Reeditado em 13/10/2021
Código do texto: T5412652
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