Palavras que eu não quis dizê-las

Eis que na manhã daquele dia Dorah Jeffer encontrou um papel dobrado na gaveta na qual retirava as roupas de seu marido que morrera um dia antes. As mãos tremiam ao desdobrar aquele papel que parecia ser uma lista, mas na qual ela desconhecia os dizeres que podiam estar ali, certa de que seu casamento ainda que terminará prematuramente pelo destino não fora um dos casamentos mais belos que se podia dizer, mas certa de que o que tentaram fazer ser perfeito, fora perfeito. Agora Dorah já abrira e lia o título daquilo que havia no papel “Palavras que não quis dizê-las” era uma lista de momentos não tão bons, de palavras ditas de uma maneira que ele (seu marido) não quis dizer, momentos no qual a boca falou mais rápida do coração. Segue um trecho da carta.

“Palavras que eu não quis dizê-las”

18.02.74 “Hoje cheguei do trabalho, enfrentei um transito terrível, ao entrar em casa percebi minha esposa ao telefone, percebi também que o jantar não estava à mesa, então esbravejei ‘Cadê a janta? Os pratos? A comida? Invés de ficar neste telefone, por que não faz seus deveres, mulher!?’ – Ao deitar hoje eu gostaria de dizer em meu coração - estas palavras eu não quis dizê-las”

22.02.74 “Hoje em meu horário de almoço meu filho Alfred de nove anos, veio a mim alegremente mostrar seu desenho que fizera pelo encontro das famílias na qual me ausentei por causa de uma reunião de trabalho, não lhe dei atenção e disse ‘Filho, agora não, não tenho tempo’ Gostaria de não dizer isso estas são – palavras que não quis dizê-las.”

...

05.06.77 “hoje Recebi uma ligação, percebi que era da casa de repouso na qual deixei meu pai, depois que minha mãe partiu há alguns meses, ele queria conversar comigo, mas não me interessei pela conversa, disse-lhe; ‘Agora não pai, preciso entregar um projeto importante, me liga mais tarde, amanhã ou melhor me liga na semana que vem’ Desculpa pai, aquelas palavras eu não quis dizê-las”

12.06.77 “Hoje Recebi uma ligação, era da casa de repouso, lembrei-me da semana que passou e que não dei a atenção ao meu pai, ao atender percebi que não era a sua voz, mas sim de uma enfermeira; papai, partiu e eu não disse adeus. Cheguei agora de seu funeral, minha esposa quis me consolar junto ao meu filho, eu disse a eles que não eram capazes, como não queria dizer aquilo, aquelas foram palavras que não quis dizê-las”

Enfim, agora eu colunista que lhe escrevo, diante destes pequenos trechos retirados de minha mente... O que você tem dito para as pessoas que o circunda que agora vem em sua mente a frase “Estas palavras eu não quis dizê-las”? Será que a parede construída pelo orgulho vai lhe impedir de dizer olhando nos olhos que foram da boca pra fora? Ou você tem guardado na velha gaveta da cômoda do coração o papel com tudo aquilo que não queria dizer?. A vida está passando, quantas pessoas vieram em sua mente e quais são? 2? 3? Não sei quantas, mas sei o quanto mais breve você procura-las, mas cedo poderá dizer “Aquelas foram palavras que eu não quis dizê-las”.

Fraterno Abraço.