De que preciso?

Estudo muito, consigo um bom emprego, ganho um bom salário, mas ainda me falta algo. O quê?

Meu maior sonho é ter um carro para me dar conforto e comodidade nos meus deslocamentos, mas isso não ocorre. Estou no trânsito perturbador e com qualquer coisa saio de mim mesmo e arremesso o veículo contra o outro à minha frente ou à minha lateral em busca de espaço. O que me falta?

Com minhas economias, construo a casa de meus sonhos, compro o que há de melhor e mais avançado no mercado no que diz respeito a móveis, eletrodomésticos e eletroeletrônicos, mas me deito à noite e não consigo dormir. O que ainda me falta?

Tenho uma família, que para a sociedade é um modelo a ser seguida, no entanto não me sinto bem perto dela ou simplesmente vivemos juntos tudo numa espécie de fingimento.

Agora sei como vou ficar bem. Vou comprar um sítio, saí da vida corrida na cidade e passar meus finais de semana e feriado ouvindo o canto dos pássaros e barulho das águas. Já sei como tudo ficará: um lindo pomar, muitas frutas. Ah! Também está em minha planta mental fazer uma horta, que encantará meus olhos e de quem for vê-la. Nada melhor do que colher frutas e hortaliças fresquinhas, colocar à mesa e degusta-las. Quem não quer isso? Pensa que não fiz isso? Enganou-se você. Ela está desse jeito. Mas para minha decepção, sabe o que ocorreu? Um temporal veio e destruiu tudo? Uma praga comeu toda plantação? Nada! Estou triste, decepcionado comigo mesmo. Às vezes dou boas gargalhadas em público, tudo tão somente pura dissimulação. Quando só, sinto-me só. Extremamente só. Já sei, vou conhecer alguns países assim que sair de férias. Noto que só assim esquecerei coisas bobas, fúteis que querem me colocar para baixo. Faço a viagem! Percorro toda a Europa. Que lugares bonitos! Povo diferente, diferentes costumes. Agora estou reabastecido, energia renovada. Chegou o momento de voltar ao meu lugar de origem. Durante a viagem, algo volta a me incomodar: sinto que nem tudo me vai tão bem. Parece que está faltando algo ainda. Você me diz que isso é um exagero no mínimo exacerbado de minha parte, pois tenho e faço tudo quanto o dinheiro me permite. É dura, mas a realidade é real, verdadeira e nesse aspecto, muito cruel. A que conclusão chego depois de percorrer muitos caminhos externos tentando encontrar comigo mesmo? Uma ficha caiu... Volto às minhas raízes e me vem à mente uma certa indagação que, no primeiro instante, soa estranha dentro de mim: será que não é preciso ter muito para estar bem? Os meus antepassados parecia viverem “melhor” do que os “ricos” de hoje”. A verdade é exatamente esta: o que me preenche não pode vir de fora para dentro. Mas infelizmente me deixei levar pela ganância do TER para SER e hoje tenho, mas ironicamente não sou. Perigoso isso, não é? Um percentual alarmante de pessoas ao redor do mundo vem cometendo suicídio, mesmo possuindo muitos bens, todavia essas pessoas não vão bem. É diante dessa análise que me proponho a rever meus conceitos e valores. Não preciso ter muito para me sentir bem. Não quero ter muito para não pisar nos pequenos e também não quero ter tão pouco para viver mendigando e desse modo sendo peça de manobra dos que se acham dono de tudo. Quero ter apenas o que me permita viver e poder compartilhar com os que também de mim precisam. (paráfrase)

ERALDO CUNHA
Enviado por ERALDO CUNHA em 04/09/2016
Reeditado em 04/09/2016
Código do texto: T5749845
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