Ética e imparcialidade num site sobre psiquiatria: é possível?

Ética e imparcialidade num site sobre psiquiatria: é possível?

Ao criar a página Brócolis Histriônica, almejei não apenas compilar artigos científicos e esclarecedores sobre problemas psiquiátricos, mas também coletar depoimentos esparsos na internet e agrega-los à página, a fim de criar uma imagem mais realista do que é um transtorno e quais são suas consequências na vida do doente e das pessoas que vivem ao seu redor. Observei que, para um leitor leigo e pouco experiente no assunto, seja sob o ponto de vista médico ou interpessoal, tais informações dificultam a compreensão prática do que um transtorno representa no dia-a-dia, fora das páginas abstrusas dos manuais de psiquiatria. As páginas e blogs sobre o assunto tinham caráter um tanto quanto dicotômico: algumas lidavam com as mazelas de se ter um transtorno, pintando o doente como tendo uma personalidade frágil e abandonada, sem controle e com necessidade constante de ajuda. Outras, por sua vez, já estigmatizavam e ostracisavam portadores do transtorno, algumas com títulos bastante impactantes, como: cuidado com a mulher histriônica, fuja das borderlines, namorado borderline e violência doméstica, relação abusiva e psicopatia, e assim por diante.

Vi questionamentos em blogs e fui questionado a respeito da ética de se criar uma página do tipo, já que, além de estimular de forma não intencional o autodiagnostico, os depoimentos dificilmente têm caráter impessoal: vêm de pessoas que tiveram suas vidas destruídas por conviver com pessoas mentalmente comprometidas, ou vêm de pessoas que foram abandonadas e tiveram sua condição piorada em virtude da falta de entendimento por parte daqueles com quem conviveram. Como se pode perceber, a imparcialidade é impraticável numa página que lida com vivências reais de pessoas, vivências que estão imbuídas de opinião pessoal, erros de diagnóstico, mágoas, ressentimentos, infortúnios, clemência, preconceitos e assim por diante... Entre os relatos, encontramos pessoas que se suicidaram diante um momento de stress, fato que poderia ser evitado, caso os familiares e cônjuges conhecessem melhor o solo sobre o qual estavam pisando, mas encontramos também relatos de famílias destruídas pelo problema e casos falsos de estupro e agressão, os quais foram parar na corte, com penas severas aos supostos culpados, que, após a injustiça cometida, se revelaram inocentes.

Eu, como sendo o escritor da página e, destarte, também influenciado por minhas crenças e experiências com o assunto, certamente, mesmo que muito a contragosto, deixarei a minha impressão digital no conteúdo- como toda impressão digital é singular, ser-me-ia impossível anular as influências do meu próprio credo concernente a tão delicado assunto.

Diante dessa ambivalência, propus-me a equilibrar o conteúdo, de modo que o leitor possa, através de leitura diligente e ponderada, forjar uma opinião a respeito, com estrutura suficiente para agarrar o leme de seu próprio barco e decidir se quer ou não enfrentar a vindoura tempestade.

UM VIKING DE ÓCULOS
Enviado por UM VIKING DE ÓCULOS em 07/11/2016
Código do texto: T5816032
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