O testamento de um lunático

Como é do teu inteiro saber, minha vida no trabalho ganha pão começou bem cedo, logo aos dez anos tive que ir pra charrua e só parei, quando me aposentei aos sessenta e três anos de idade.

Bem, quando lhe conheci e resolvemos juntar nossos trapinhos, logo você também teve que abraçar o trabalho, para que a nossa vida a dois e depois a cinco, fosse digna de uns pobres de classe média baixa, se é que isso existe. Vivemos durante quatorze anos de cá para lá nos alugueis, pois casa própria era somente um sonho nosso. Mas a vida tem seus reversos e num desses, você conseguiu um lote, onde hoje podemos nos orgulhar de estar bem firme nele hoje uma casa de três pavimentos, até muito bem distribuídos os seus cômodos, nunca utilizamos o último, não por falta de necessidade ou talvez porque nunca o terminamos.

Nos demais, o piso e o primeiro andar, que contém juntos treze repartições são o suficiente para nós e nossos agregados, e ainda sobra espaço para acomodarmos nossos hóspedes com um bom conforto. Ao longo desses cinquenta e três anos de trabalho jurei nunca amontoar algo que servisse de herança, para que depois que eu partir nossa prole ficar brigando e se esbofeteando, por míseros níqueis, por isso sempre fiz questão de gastar e bem tudo o que ganhei, mas consegui vê-los todos formados e muito bem alojados em seus trabalhos. Orgulho? Não, apenas precaução. Este o bem mais precioso que junto a te, consegui passar a todos eles, o estudo, o conhecimento, a educação profissional e moral, coisa que ninguém irá lhes tirar.

No entanto, vou deixar-lhes, em testamento algo que me é muito caro, o meu coração, repartido da seguinte maneira.

1- Quatro apartamentos onde alojei um dos filhos em cada um deles.

2- Estes apartamentos hoje, já não são mais habitados somente pelos filhos, pois vieram depois os genros, as noras e os amados netinhos, ou melhor, as netinhas.

3- E a cobertura, essa exclusivamente para você, é ali onde guardo o meu mais precioso tesouro, o meu grande amor sempre lhe dedicado, se também moro ainda lá, é porque você ainda permite, mas se um dia da minha pessoa enjoar, ponha-me porta a fora e verás que sairei e muito feliz, sem nenhuma mágoa, porque que ama não tem em seu coração lugar para raiva, desprezo ou qualquer sentimento que fira esse amor.

4- A casa? Ora, a casa é sua, está em seu nome, portanto, tem que ser você a dar-lhe o destino que achar melhor.

Sabe meu bem, não me arrependo de nada que até aqui fiz e ainda quero muito ainda fazer, porque é assim que sou feliz e é assim que ainda quero muito tempo viver, feliz. Um grande beijo. Ah! e que esse beijo ainda possa se repetir por muitos e muitos anos, sou jovem, não sou? De quem muito te ama. ChanCheng.

ChangCheng
Enviado por ChangCheng em 06/11/2017
Reeditado em 06/11/2017
Código do texto: T6164420
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