TEXTÃO 2017

2017 está quase acabando (com a gente também ). E foi um ano que se desenrolou em duas realidades problematizáveis.

Uma das realidades foi essa do mundo físico. Onde boletos são pagos (ou pelo menos alguns deles), onde o calor infernal criou peculiaridades como o biquíni de fita isolante e onde obras de arte foram execradas por gente que nem frequenta museus.

A outra realidade foi a das redes sociais. Onde todos sempre estão super empenhados em parecerem relevantes para uma maioria que não dá a mínima. E foi nessa realidade caótica e carnavalesca (no sentido esculhambado da palavra) em que tudo foi mais interessante, mais super-dimensionado e absolutamente irrelevante, no fim das contas.

E teve de tudo. Teve Drag Queen que canta mal, mas diverte, sendo atacada. Teve gente que canta bem, mas dá sono, sendo esquecida. Teve bunda. Muita bunda. Toneladas de bunda. Teve gente condenando as bundas. Mas teve gente colocando a bunda pra jogo no carnaval. Teve gente condenando o relacionamento homoafetivo ( alguns desses, respeitáveis senhores que na surdina fazem uso dos favores sexuais de profissionais das mais variadas siglas). Teve religião misturada com política, gerando um monstrengo socialógico difícil de decifrar. Teve direita, teve esquerda e nenhum bom senso.

O mundo por traz da tela, nesse ano, foi o arauto de um apocalíptico embate de todos contra todos. Num contexto cristão, em que se tem por premissa amar ao próximo, nunca se odiou tanto ao próximo. Nunca se guerreou tanto contra as diferenças do próximo. Deu até pra escolher o que odiar, dada a quantidade de opções: política de cotas, foi golpe/não foi golpe, lacradoras, empoderadas....enfim...o indivíduo virou uma bolha isolada de tudo, dando o aval para condenar a tudo e a todos.

Num âmbito mais pitoresco, tivemos a militância tonta por causas inexistentes. Mas tivemos também a militância por causas sérias. O único problema é que a maioria deixou a investida só na timeline mesmo.

E teve mais um monte de outras coisas que no momento me escapam, dada a velocidade com que tudo acontece no mundo hoje.

Diante de tudo isso, tenho algumas esperanças para 2018 (Estão mais para milagres), que são:

• Que paremos de projetar nossa frustração nos outros. Isso economizará ataques sem sentido ao que o coleguinha pensa.

• Que tenhamos modelos menos medíocres que subcelebridades. Ou que não tenhamos modelo nenhum e sejamos menos ordinários que o de costume.

• Que sejamos menos reativos e usemos mais a racionalidade, principalmente no âmbito político. Não importa se é direita ou esquerda. Se esse bananal sub-tropical afundar, todos afundamos juntos.

• Que a religião do outro seja respeitada. Afinal, que eu saiba, Deus não passou procuração a ninguém para reivindicar a propriedade da verdade. Não sejamos chatos.

• Que tomemos consciência de que estupidez tem cura. Basta nos informarmos , procurarmos saber e acima de tudo, questionarmos tudo que já vem pronto.

• Que saibamos por fim, calar a boca quando nada de útil puder ser dito.

Que 2018 seja um ano menos estúpido, mais tolerante e menos babaca do que foi 2017.

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 27/12/2017
Reeditado em 27/12/2017
Código do texto: T6210097
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