Pássaros

Pássaros

maria da graça almeida

Queria um pássaro

de bonito trinado,

fino adorno aos meus olhos

e ouvidos cansados.

Os maus homens, à solta,

-sustos, insultos, assalto, cara feia-

cometem crimes e passeiam.

Pássaros cantam e encantam,

presos em minúsculas cadeias.

Cercear a beleza, não!

Encarcerar o canto, não!

Mesmo os querendo perto,

nunca tive a intenção...

Faço meu sonho inverso,

liberto os alados reféns,

livro-os do cativeiro,

soltos enfeitam o além

em vôos festivos, faceiros.

O pássaro engaiolado

equivale ao animal embalsamado.

Distinguem-se apenas na interioridade,

enquanto um tem a vida dentre as grades,

o outro a tem fora dos limites do corpo.

Em minha varanda, na bandeja,

frutas da estação, sobre a mesa,

regalos aos cantores que soltos,

livres, chegam e partem

sempre ao sol que pouco arde

nas quentes manhãs

ou aos fins de tarde,

a recriarem em cores,

com permissão, sem temores,

os gorjeios da liberdade.

maria da graça almeida

maria da graça almeida
Enviado por maria da graça almeida em 10/03/2005
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