Minha história do câncer

Há três anos, um câncer maroto (pâncreas e fígado) me jogou num mundo de expectativas. Um pouco de medo, não nego, que rapidinho se transformou em certeza. Estava convencido que seria questão de tempo, que ele não me venceria. Por isso não canso de expressar minha gratidão aos Amigos, aos Familiares, aos Profissionais que cuidaram de mim e principalmente à Deus, pela vitória.

PARE O TREM

Parece que meus dias se vão na velocidade de um trem imaginário, uma locomotiva fictícia, mas que faz um barulho danado.

A cada momento, a cada dormente, percebo a semelhança com a vida que segue e que longe se vai.

É Inevitável. Os dias se passam, o passado se avoluma, a distância aumenta.

O passar do tempo e o balançar dos vagões, obstáculos quase que intransponíveis, me fizeram mais áspero, fizeram brotar aridez nos meus pensamentos e sentimentos. Já percorri mais da metade da viagem e agora eu sinto que poderia ter sido melhor, menos rude, que não carecia de ter sido tão afoito. Noto que trilhos ficaram pra trás e que em alguns trechos eu não vivi, apenas andei.

Recordo que lá nos primeiros dormentes, nos primeiros ruídos de rodas e trilhos, afloravam a amabilidade e a inocência de uma criança. A viagem foi me deixando mais experiente, coração mais duro, talvez. Acho que é hora de recuar.

Os primeiros dormentes foram ficando, até os esqueci. Lembro que alguns passageiros desembarcaram em alguma estação e que a viagem para eles chegou ao fim.

Eu continuo no trem, mas decidi que vou descer. Vou me retirar por uma questão de estratégia, vou esperar. Vou voltar e curtir os AMIGOS que os deixei distanciar. Agora não tenho mais pressa. Mais tarde posso embarcar noutro trem, se for o caso,  o trilho é o mesmo e não haverá perigo.

Por favor Maquinista, pare esse trem!

Wilmar Pereira
Enviado por Wilmar Pereira em 24/04/2018
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