O que é possível fazer dentro dessa nova realidade.
A pandemia chegou e eu não estava preparada para todas as mudanças que ela provocou.
Nesses meus 54 anos de vida me acostumei a trabalhar muito , a ser independente , a ir e vir de acordo com minhas necessidades.
Não gosto muito de abraços e beijos com pessoas que não tenha um grande vínculo,também não gosto de sair para lugares movimentados, mas gosto de parques ,bibliotecas e livrarias.
Para mim a tecnologia é algo fantástico com a qual tenho enorme dificuldade, isso é compreensível pois eu disquei para usar o telefone, tirei diploma de datilografia , com nota mediana, fiz prova mimiografada, usei muita ficha de telefone, mudei canal da televisão no seletor de canal e acreditem a televisão não era colorida.
Sei usar o básico do celular, quase nada de computador, nem tenho um.
De repente tudo mudou.
Fui trabalhar num dia e no outro estava em casa sem previsão de volta.
De repente tive que encarar uma nova realidade.
A simples necessidade de comprar alimentos gerar muita ansiedade .
Comecei a usar máscara mas será que estou usando certo?
Estou usando álcool em tudo mas será que é eficaz mesmo?
Preciso comprar frutas mas e se for será que pego Covid?
Milhões de pensamentos normais e outros bilhões provavelmente insanos.
O trabalho começa a se caracterizar com o novo jeito de ser . Surgiram as reuniões a distância mas não tinha equipamento adequado , tive que providenciar.
Aprender a acessar reuniões, assistir cursos que nem sempre são do meu interesse ou que fiz muitas críticas.
Descobri o que era uma live e passei a fazer síntese de tudo que via, enfim o tal teletrabalho .
Mas como trabalhar com crianças de 0 a 3 anos a distância? Meu trabalho é 99% de prática e1% de teoria e muitos não conhecem essa realidade, só lidam com a teoria.
E as famílias como será que estão lidando com tudo isso?
Vou tentando me adaptar a essa realidade, mas não está sendo fácil ,são desafios diários.
Medo da doença e suas consequências continua a cada tosse , uma dor de cabeça simples ou alguém que chega perto demais.
Descubro que o que para mim não é tão difícil para outras pessoas é terrível.
Para mim o isolamento social não é tão ruim, risos,mas para muitas pessoas é quase uma tortura então muitos não seguem as recomendações e continuam suas vidas quase da mesma forma.
Já se passaram quase oito meses, muitas coisas mudaram .
Aprender uma nova rotina que muda cada vez que surge uma nova recomendação está me transformando.
Ouvi recentemente que é um privilégio poder ficar em casa em teletrabalho e ter a oportunidade de estudar . Discordo, porque estudar quando você não escolhe não é privilégio e apenas se adaptar e fazer o que é necessário, tirar proveito dessa situação e adquirir novos conhecimentos é também complexo por depender de vários fatores entre eles o emocional e muitos simplesmente não conseguem. Não tem haver com não aproveitar o momento ou ser fraco ou sensível ou incompetente, simplesmente é difícil.
Mas as vezes uma única frase e dá um resignificado , um outro olhar tanto no profissional quanto no pessoal.
A pandemia também me trouxe a certeza que não estou sozinha , que tenho amigos que se importam comigo e com quem posso contar .
Também intensificou mais minha relação com minha filha e a admiração pelo seu trabalho, enfermagem.
Estou convivendo com essa nova realidade tentando acreditar que vai passar ,que vou sair quase ilesa ,porque todos perdemos , uns mais outros menos. Todos de uma forma ou de outra sofremos.
Tenho muitas dúvidas de como será os próximos meses, esperança na ciência e na descoberta da vacina, incerteza de como o desgoverno federal vai fazer, se vai ajudar ou atrapalhar mais ainda.
De certezas tenho que a educação e a ciência são fundamentais, que o SUS é indispensável, que o servidor público precisa ser respeitado e valorizado , que já não sou mas a mesma e que o mundo também mudou.