BANCOS VAZIOS...

Os bancos estão vazios, assim como muitos corações.

Aquele local chamou-me a atenção. Localizado em área nobre, chamada de Praça do Passeio Público em Fortaleza-CE.

Empurro o portão, são 06h30min, o dia está claro, tudo muito silencioso, apenas ouço os pássaros a cantar anunciando o nascer de mais um dia.

Pergunto ao moço responsável pela limpeza da praça se posso adentrar. Após a confirmação, começo a andar pelas passarelas, dá gosto de ver a limpeza, Os bancos pintados na cor verde... Adi. Olho os monumentos creio, greco-egipcios espalhados... fontes, coretos, tudo maravilhosamente cuidado, até parece aqueles locais de enfeite, só para ver.

Aspiro profundamente o ar, sinto cheiro do mar, olho e o vejo por trás das casas antigas, tão perto dali. Fotografo enquanto caminho, olhando ora para cima, ora para os lados, encantada com tanta beleza.

Pelo lado de fora, vejo mendigos dormindo no chão, nas calçadas sujas, ao relento, sem conforto algum, nem mesmo um trapo sobre seus corpos.

Olho para os inúmeros bancos vazios da praça, enquanto observo, vejo que o responsável pela manutenção da limpeza junta folhas que caem das árvores centenárias que existem no local. Ouso perguntar-lhe se a praça é proibida para os mendigos, ele diz que não, mas como é fechada, já impõe um pouco de receio, lembro das lojas nos Shoppings Centers fechadas com portas de vidro e no interior ar refrigerado, só isso já impõe temor, insegurança para entrar, parece tolice, mas não é, porta aberta é convite, fechada, torna-se mais complicado adentrar.

Volto a olhar os bancos cuidadosamente limpos.

Isso me deixa entristecida, tantos bancos vazios, tanta gente amontoada dormindo em calçadas. Que paradoxo!

Sento e fecho os olhos... Faço um comparativo de bancos vazios com corações idem, e penso que muita gente está assim, como esses bancos, bem tratados, limpos, bonitos, mas vazios, sem serventia, apenas enfeitam, isso me faz lamentar.

Uma lágrima teimosa decide cair logo na hora em que o jardineiro passa, levanto a vista e explico que estou chorando de emoção, porque penso em escrever algo sobre aquela praça linda e vazia, pergunto o seu nome, ele me diz chamar-se Francisco, agradeço e o vejo sair para limpar as fontes. Continuo a refletir...

Bancos vazios, corações também... Mas...

De repente resolvo pensar no meu coração... Ele não está vazio, transborda amor, fé, alegria e confiança... Isso me faz sentir que nem tudo está perdido, outras pessoas também tem seus corações cheios de coisas boas, estão abertas para o mundo.

De repente, pára um ônibus escolar, várias crianças em fila entram pelo portão... O guia as leva até um pé de Baobá enorme, cheio de tatuagens...nomes de enamorados, juras de amor adornam o seu tronco, resolvo ouvir a aula ecológica. Depois, enquanto as crianças se espalham eu faço uma foto embaixo do pé de Baobá...

Decido deitar em um banco daqueles, olho para o céu azul, tudo perfeito, agradeço ao meu Deus pela beleza da vida.

Levanto, peço permissão mais uma vez ao senhor Francisco, agora porque quero arrancar uma flor e levar comigo, ele a retira e me entrega...

Com um leve sorriso saio daquele local... Já encontro um mendigo acordado que me pede dinheiro para comprar um café, dou e ele de imediato compra o seu alimento... Dói ver tudo isso, pessoas perambulando nas ruas, indo e vindo, sem um teto para chamar de seu...

A vida segue. Que Deus não permita eu ter o meu coração embrutecido para essas coisas...

Ao longe, ouço o rádio tocando uma música, é Chico César que canta e encanta... Dizendo: “É só pensar em você que muda o dia, minha alegria dá pra ver não dá pra esconder nem quero pensar se é certo querer o que vou lhe dizer um beijo seu e eu vou só pensar em você. Se a chuva cai e o sol não sai penso em você vontade de viver mais em paz com o mundo e comigo”.

Aspiro a flor... seu cheiro lembra-me o óleo que gosto de passar no corpo... Óleo Exótico de Ameixa...Sigo devagar, mente divagando, lembranças de outros momentos... Vida!

Adi
Enviado por Adi em 01/05/2008
Reeditado em 02/05/2008
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