Um sonho realizado ao lado de pessoas que me acompanham há muito tempo e as quais devoto amor extremado: JULI LIMA, LEONILCE HERCULANO e MARIA APARECIDA GIACOMINI DÓRO. Obrigada por sonharmos juntas...

JORGE, amigo mais que amado, como agradecer o presente que nos ofertou ao escrever um prefácio que é puro diamante? Só ele já valeria toda a obra. E exatamente por isso resolvemos publicá-lo. TODAS NÓS. Honradas e agradecidas.




PREFÁCIO

 

  Jorge Luiz da Silva Alves*

 

 

Cada passo dado por uma mulher no mundo é um dilema. Um desafio. Sempre.

E não há Novo Milênio, modernidade ou racionalismo que cure tamanha injustiça.

Num mundo de policialesca masculinidade, os feitos femininos serão sempre atenuados ou explicados sob uma ótica concessiva; haverá sempre a preocupação em ressaltar o fato em meio a eufemismos. Cada passo dado por uma mulher no planeta que leva um nome feminino será sempre um eufemismo.

Desdenhamos, entretanto, o fato lógico: nada seria o que é, não fosse ela. Sua sensibilidade aguçada é um dom pretenatural do Paraíso, da recusa de Lilith em ceder aos caprichos de Adão e questionar sua hierarquia com base na Divindade, já que também viera do barro, como ele. Posto desta forma, quando uma mulher expõe sua sensibilidade ao mundo, em verdade é o aroma da Santidade que se manifesta além do patriarcalismo que assomou o mundo em eras pretéritas. Para que o vigor e o impulso fálico preponderassem, fora necessário se revestir o Homem de um mínimo de Humanidade. E só uma mulher é capaz de passar tamanha herança. Sem justificativas ou explicações – apenas por sê-la.

Quando uma mulher resume sua sensibilidade em rascunho, há sempre a impressão de que muito ainda há de se descobrir dentro de nós mesmos. Algo tão oceânico, cósmico, santo, não poderia ser do domínio das escassas letras. Todos os alfabetos do mundo não explicariam um terço do que vai à alma de uma mulher. Isso visto por mim, pobre de espírito. Mas elas conseguem.

O principal feito destas quatro mulheres é explicar como o divino pode dar as mãos ao profano; como podemos chegar a um ponto numa reta dando mil voltas; como uma lágrima – apenas uma – sulca-nos tão profundamente a alma como o mais correntoso canyon.  Para nós, homens, um mistério insondável; para elas, infinita simplicidade. 

Maria Aparecida Giacomini Dóro explica-nos com a suavidade da pena trabalhada nas tintas da vida que a confiança não reside na marmórea ilusão das promessas e sim numa cristalina certeza que, feita em pedaços, jamais se recomporá. Léo Herculano abre o seu coração em versos intensos, mas explica nas entrelinhas: não é, meramente, um ensaio sobre o amor, mas um convite à vida – sincera, escancaradamente sincera e sem maquiagens; quem sofre de claustrofobia, saia antes que se feche. Juli Lima estrutura-se em versos concisos sob um segredo que está além da economia de palavras – a totalidade de sua vulcânica sensibilidade, revelada de forma lacônica (Semântica) ou na imediata e certeira provocação poética (Quer paz?! Guerreia!); algo que, solto no mundo de forma vã transtornar-nos-ia feito à caixa de Pandora. Marúcia (Mar) Herculano é a síntese definitiva das três, forjadas na sarça de sua natureza excelsa e moldadas em poemas que correm nossas veias como o substrato vital do Ser Mulher nesta terra de incongruências e rótulos; uma “Alma Pagã” que vasculhou “Porões” onde se debatia desesperada, em manter a sanidade com sua divinal “Demência”: Num mundo afeito às conveniências da mediocridade igual / vislumbra o brilho da eternidade em sua verdadeira essência... 

Cada passo dado por essas quatro mulheres neste mundo patrilinear é um desafio.

Considero uma bênção, em verdade, a chance que nos oferecem de conhecer um pouco mais da sensibilidade feminina, e por quatro talentosas mãos. A verdade por trás de cada ‘verdade’ que não conseguimos entender e, por isso, criamos rótulos e sentenças. Pois tudo aquilo que soa-nos desconhecido, tememos. Demonizamos. Reduzimos. E tudo, em verdade, é tão simples – elas sabem disso, deixemos que nos revelem com a simplicidade que ainda nos foge.

Eu, humilde, agradeço.