Meu ídolo

Cheguei do México e fui à barbearia do Laerte com um litro da infalível tequila, que é uma daquelas bebidas que sem dúvida têm muito mais fama do que adeptos e que ficam eternamente enfeitando os bares caseiros, mas o que vale é a intenção.

Dessa vez também trouxe pimenta, que posso garantir tem bem mais adeptos do que fama, pois tudo no México com exceção talvez da mamadeira dos bebês até os 6 meses, tem um toque picante que iguala todos os sabores. Exagero? Sei não...

O Laerte sempre foi um ídolo, uma referência, um objetivo. Quando crescesse eu queria ser como ele: vistoso com seu topete, cheio de amigos, centroavante do Floresta F.C. O que mais eu poderia almejar?
 
Todas as noites quando ele voltava do trabalho eu já estava esperando. O pozinho imaginário que ele trazia no bolso e tornava qualquer prato um manjar dos deuses.  Era a versão caseira do pirlimpimpim e fazia minha imaginação voar mais alto que o Peter Pan e tornando aquela mais que frugal combinação de bife, arroz e tomate algo jamais igualado, nem mesmo pelo pato com número de série do Tour D'Argent.


O Laerte me ajudou muito, como ícone e como irmão. Indicações precisas do que eu deveria fazer. De onde vinha toda aquele certeza? Da vida vivida, do pai, da mãe, da singeleza de ser irmão mais velho mas principalmente de uma sabedoria inata que faz com que sempre saiba exatamente o que deve ser feito. Hoje pouco nos vemos. Moro em Curitiba e ele em Campinas mas continuamos nos amando.

E o meu irmão me esperava com mais do que um presente: um quadro cuidadosamente composto em que estão um menino de 5 anos, outro de 3 e ele próprio no esplendor de seus 20 anos.  Sabe-se lá em qual baú ele descobriu essa foto rara, mas me emocionou muito.

Dificil de acreditar, mas ai está a prova irrefutável de que já fui criança e que pelo menos um dia usei um terninho de calças curtas. 

Não pude deixar de notar  um certo ar preocupado na expressão sorridente daquele menino. Sol no rosto? Pode ser, mas eu acho que ele já sabia que o Laerte não seria eterno.

Foi para o outro lado, com a mãe, o pai e o Larci. Meu irmão, meu ídolo, descanse em paz! 

 
Rosso
Enviado por Rosso em 25/12/2009
Reeditado em 04/03/2016
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