Eu voltei!!!

Sempre fiz da minha asma motivo pra tiração de sarro. Sabe aquela coisa bem típica de asmático? Você está num puta beijo de tirar o fôlego e de repente vem a maledeta falta de ar, como se um gato estivesse saindo de dentro do seu peito. Confesso meu amor aos bichanos, mas tê-los miando dentro de mim não é algo muito agradável.

Pois bem ...e assim iniciei minha segunda-feira. Acordei numa sangria desatada pois eu tinha um compromisso relacionado a trabalho que estava me dando nó nas tripas. Pus os pés no chão e já senti o gato miar (ahhh ...não era a Tekila!). Fui ao banheiro e me preparei pra uma sessão de inalação. Nada ...inúmeras doses de medicamento broncondilador e ...nada!

Fui para o escritório me ocupar das obrigações habituais e resolver o compromisso inadiável ...e dá-lhe ligações e cadê meu ar? Pensei: tô precisando de um pulmão novo ....hummm ...vou ter que me virar com esse, não dá tempo pra pensar ...simbora resolver as paradas profissionais.

Aos trancos e barrancos e com toda a graça de Deus aquietei meu coração ao solucionar uma pendência antiga e tudo dentro dos conformes. Na volta ....cadê meu ar ? Nada ...e o gato chiando (comecei a pegar birra disso ...e olha que amo gatinhos). Tive que passar em casa pra mais uma sessão de inalação e o resultado: nada!

Volto correndo pro escritório pra atender os clientes com os quais havia marcado. E samba no broncodilatador! E nada .... e pausa pra respirar pra falar com cliente e ela me olhando como quem diz: como que essa mulher vai me aposentar por invalidez, parece que tá morrendo também. Com a justiça lenta, só falta morrer a advogada (sei que ela deve ter pensado nisso, pois ela fez uma carinha).

Daí que realmente começa minha semana fenomenal ...rs. Percebi que não ia melhorar sozinha e me mandei pro P.S. (tão acostumado em me ver). Cheguei esbaforida e falando: Vai demorar muito? (sem brincadeira, tinha uma fila imensa ...eu me senti no SUS melhorado). A moça me lança um olhar de nem aí e diz: aguarda pra medir a pressão. Pressão? Que pressão minha filha ...to morrendo sem ar....pressão, pressão ...se eu tivesse como, faria ela sentir a pressão das minhas mãos na goela dela. Apenas me contive, falar cansaria ainda mais.

Senha 742...lá vou eu. Olha ...eu devo ter uma equipe de anjo da guarda de plantão, pois sempre fui de dar muito trabalho no quesito saúde. Uma abençoada de uma enfermeira me atendeu e como também era asmática me encaminhou direto pra sala do médico. Ele olha pra mim: é asmática ? (Hummm ...não, engoli a tekila por engano!). Sem sarcasmo, seja cordial ...respondi que sim. E ele: fumante? Bom ....serve passiva? Não sei nem tragar. Saí da sala contente, pois geralmente quando me dava uma crise era só receber uma hidrocortisona na veia que meu pulmão se abria. E não é que não se abriu ?! E lá vou eu pro raio-x.

Pausa no raio-x. Em hospital a gente vê cada coisa que só por Deus. Enquanto eu estava lá, com falta de ar aguardando pra ser atendida, chega uma tiazinha praticamente travada junto com o coitado do filho. Quando a mulher chegou daquele jeito dando bafão, já pensei: xiii ... essa tem algo mais além de dor. A mulher ficava gemendo, olhava pra minha cara e dizia: o que você tem ? Você não tem nada ! É tudo frescura....ai que dor, eu vou morrer. Quantos tem na minha frente? Eu ali ...na minha e só pensando: puta merda, eu não consigo respirar e essa velha me dizendo que não tenho nada ...no dos outros é refresco mesmo. De repente a tiazinha que não conseguia nem andar começa a dar uns pulos, tipos saltos mortais mesmo e gruda no pescoço do filho e começa a xingar e puxar os cabelos e dar pontapé no ar. E o coitado do moço lá sozinho tendo que acudi-la. O povo do hospital? Nem aí pro piripaque dela.

Fiquei com aquela cena na mente, mas fui a caminho da enfermaria pra levar o raio-x. O médico me chama, me examina, olha pra mim e diz: não melhorou nada né ? Hummm ...melhorou não. Então ...vamos ter que internar. Tem frases que me causam um efeito inesperado. Olhei pra ele e ri. Tá louco Doutor? Internar? E ele : louco estaria de deixar você sair assim. Putz ...fodeu! Eu já tinha despachado meus pais pra igreja, dizendo que logo estaria em casa e agora esse doido me diz que vou internar. E agora ? E lá vou eu pro setor de internação.

Ligo pra uma amiga que mora perto de casa e peço pra ela ir na igreja avisar meus pais. Bom...imagina né. Nessas alturas eu imagino a minha mãe dizendo: eu falei pra essa menina que a gente iria no hospital e ela não quis, ela é cabeçuda, ela é difícil e blá,blá,blá. Pedi pra que me levassem roupa, pois eu estava desde cedo sem tomar banho e eu sem banho não sou eu. Passar a noite no hospital fedendo a azedo, ninguém merece.

Fiquei no quarto com uma outra moça que estava com a pressão alta. A dita não baixava nem com reza brava (e olha que rezei lá hein) . Rezei pela pressão, pela falta de ar, pelos roncos, pelo calor do quarto...rezei pra sair de lá. Passei a noite no hospital e nada do que eles me deram me ajudou. E dá-lhe cortisona e mais inalação e nada do ar passar. Parecia que eu ia morrer. Não conseguia dormir, não conseguia deitar, não conseguia respirar. A moça da pressão sonhava, gritava, roncava, peidava e eu ali chorando sozinha e pensando: dessa vez eu me ferrei.

No dia seguinte, no horário da visita, aparecem meus pais. Eu estava do mesmo jeito em que havia internado na segunda. Como temos um convênio melhor na cidade vizinha e como minha médica especialista é desse convênio, meu pai pediu a transferência (novamente Deus e seus anjos escudeiros estavam do meu lado, pois se eu não tivesse ido pra lá, na certa não estaria escrevendo hoje).

E lá vou eu de ambulância (no oxigênio ...esqueci de comentar esse detalhe, desde segunda com o baguinho nas narinas) pro Hospital Vera Cruz (HVC). Chegando lá, puxam daqui, mexem dali e tira maca e põe maca e minha mãe acompanhando apreensiva. Eles me levam pra um quarto e me ligam no oxigênio, passam inalação, dão medicação na veia ... e : nada! Aquilo começou a me estressar. A moça que estava me atendendo começou a me furar e tava me machucando e aquilo me irritando e a falta de ar aumentando e eu querendo sumir dali e já falando, vamos embora, vamos embora. Meu pai se estressou e for por ordem nisso (nessa brincadeira eu estava há 2 horas no P.S. do HVC.

Ai, ai ... lá vem. Moça, você vai ter que fazer um exame chamado gasometria arterial...ele é chatinho. Dói um pouco. Putz ....simbora né. Pra que serve isso? Serve pra ver como está a oxigenação na artéria... entendi nada, mas tudo bem. Quando a moça começou a enfiar a agulha comecei a suar frio. Puta dor do cacete !!!! E ela errou. E tenta de novo ....e olha a dor maldita aí. Que dor, que dor, que dor. Essa merda de exame dói pra cacete. Tem nada de chato, tem de doloroso. Se um dia você tiver que fazer, saiba disso: vai doer sim ! E muito !

Nisso eles já haviam entrado em contato com a minha médica especialista. Fui fazer novo raio-x e na volta me aparece um médico que olha pra minha cara e diz: Pronta? E eu: pra que, pra ir pra casa? Claro que não ....pra ser internada. Você vai prara a UTI 614. E saiu da sala. Olhei pra cara do meu pai: UTI, como assim? E ele: não ...deve ser porque não tem quarto. Ai, ai, ai ... dessa vez deu merda mesmo. Sabia que não tava certo ficar tanto tempo assim sem respirar. Nessa brincadeira mandei um te amo pros meus pais e simbora e pra UTI. A UTI do HVC é diferente, individual...fiquei ligada nuns aparelhinhos lá e até que não me assustei muito, apenas o suficiente pra elevar minha pressão pra 17x10 e olha que minha pressão é sempre 11x7.

Creio que me deram algum tipo de calmante porque depois de uns minutos de ter tomado um remedinho eu simplesmente apaguei. Constantemente eu tinha que chamar os enfermeiros pra alertar sobre a minha falta de ar. Como é terrível não conseguir respirar. Precisava pedir ajuda pra tudo, até pra ir ao banheiro.

Chegou o horário de visita na UTI ...e lá estão meus pais. Meu pai conseguiu que minha mãe ficasse comigo. Filha única ...sabe como é né. Meu pai teria que internar minha mãe aqui tamanho o desespero dela. Nesse mesmo dia veio a notícia, você irá para o quarto. Ahhhh ... tô fora da UTI, ufa!!!! A luta pela respiração continuava.

No dia seguinte recebi a visita da médica que claramente me explicou que “dessa vez eu passei por um fio”. Tive um crise grave de asma (de ordem emocional). Essa palavra me cansa, sabe? Tudo gira em torno do emocional. E dá pra não ser emocional? Vivemos de modo tão turbulento, tão intenso que é praticamente impossível não ser emocional. Fui alertada sobre os riscos de sofrer uma crise grave novamente. Na certa, será a segunda e última vez.

Nessa brincadeira toda eu deixei meio mundo desesperado, o trabalho abandonado e as preocupações continuam. Não sei como será na próxima semana. Disseram pra eu pegar leve. Mas cá entre nós ...eu ? Pegando leve ?! Vai ser difícil, mas vou ter que me virar, afinal de contas 30 anos pode parecer muito, mas é pouco tempo para concluir os planos que carrego dentro de mim.

Àqueles que oraram por mim, que derrubaram lágrimas, que se preocuparam e que demonstraram com gestos e palavras a intensidade do seu carinho e do seu amor, meu eterno agradecimento. E ...agradeço principalmente a Deus e aos meus pais que são a minha razão de viver.

E segunda-feira que me aguarde, pois estarei pronta pra recomeçar.