À MINHA GENITORA
Você deixou que eu morasse em você.
Em alguns momentos me senti invasora,
Pois sua juventude arranquei,
Exigi sua postura de adulta quando ainda era uma criança
Só hoje entendi. Vi tudo que de você perdi.
Roubaram-lhe a inocência
E lhe premiaram com uma tamanha responsabilidade
Sabe, me contaram que bem antes do tempo tentou me expulsar
Daquele cômodo quente e aconchegante, acolhedor,
que emprestou-me ,sem aluguel cobrar.
Venci pela força da natureza .
Ocupei seu corpo por seis, quase sete meses.
Em algum dia da semana mas , no último mês do ano,
horário hostilizado pelo calor ou pelo frio
Na corrida entre a vida e a morte apareci.
Tudo era a pior novidade,
Àspero, doído, só.
Não ouvia mais você, seus prantos , seus lamentos.
Tive medo? Não sei.
Mas não ouvia os operários biológicos do seu corpo.
Duas bolas negras cercadas de pelos , grandes olhos me fitavam,
algo úmido e raspento envolvia meu corpo acho que nojento............
O interessante era que parecia diferente do outro , passavam e iam embora.
Novamente sozinha.
Alguém aí????????????? Mas quem iria entender meu idioma?
Havia uma luz , majestosa , só que doía em mim...................
Outros me admiravam outros repudiavam, não sei definir.
Era verde, azul, vermelho e amarelo, sei lá..........
naquela época eu não sabia distinguir.
Mas cadê você?
Por que não ouço você?
Para onde foi?
Quem era eu quem era você?
Por que eu sentia tanto sua falta?
Vinte e quatro horas, me contaram
Fiquei ali inerte sem poder fugir.
E novamente superei o desconhecido
Ele me poupou pra vir aqui e Lhe agradecer :
Depois de quatro décadas, ainda estou aqui.
Não estou naquele lugar estranho
Estou ocupando um espaço
Espero que não seja de ninguém.
De uma coisa tenho certeza
Tenho uma missão pra cumprir
Não sei o que é,
Mas estou firme pro que der e “vier”.