Por que escolhi Pedagogia?

Àqueles que são íntimos e partilham segredos, reconhecem meus amores, sabem, e muito bem, que sou entusiasta dos estudos do passado, do longínquo; há muito, minha maior especulação para um futuro incerto: docente em história. Foram longos anos de reflexões, desistências, estresses, comparações e frustrações. Estava despreparado, não havia certeza de uma carreira como professor. Sem amparos que me guiassem, segui para a Gestão Pública. Durante minha estada nessa graduação, na qual realizei no Instituto Federal de Brasília, descobri-me. Conheci colegas, posteriormente amigos, os quais me ensinaram de tudo um pouco, foram guias do conhecimento. Fiquei logo decidido que era isso: ser professor. Mas quis concluir Gestão Pública.

Passaram-se quatro anos para me formar. Sim, eu sei, um curso Tecnólogo não levaria mais do que dois anos e meio, mas a pandemia atrasou minha formação, estendendo-a para uma espécie de bacharelado informal. Tudo bem. Enfim, isso não importaria muito, quero contar sobre o motivo que me fez escolher pedagogia e só teci perambulações por outro curso ou passados indefinidos para o leitor que não me conhece. No entanto, cito minha formação em Gestão Pública porque foi ela quem abriu meus olhos para o que eu queria. Vamos lá.

Seguindo o currículo do curso, dois anos e meio de duração, tudo indicava para minha formação em dezembro de 2020. Desse modo, sem prever uma tragédia que acometeria o mundo pouco menos de um ano, prevendo (nesse caso pude prever) um TCC cansativo, resolvi começar a escrevê-lo. Escolhi o tema "Gastos na Educação brasileira". Ainda não sabia sobre delimitações, formas as quais moldavam um artigo, um padrão bem robótico de escrita. Mesmo assim fui atrás de variados artigos sobre a temática. Cai num mar, quase me afoguei com tanta informação, mas fora surpreendente! Com as leituras, constatei um déficit terrível em nossa educação, éramos inferiores no quesito qualidade, estávamos muito abaixo numa tabela feita pela OCDE --- não irei dá detalhes sobre ela, informem-se! Ademais, nossos gastos eram altos. Algo havia de estranho nisso tudo. Bom, não quero me aprofundar nisso. Resumidamente, tendo em vista da negação ao meu tema por parte de orientadores, só desejei ainda mais me tornar um docente; não sabia de qual área, mas ainda estava próximo de ser de história.

Em um certo dia de 2020, o mês era junho, lembro-me por conta do frio e uma vista pacata do céu pálido, um amigo, que prefiro omitir o nome, veio me dizer: "Léo, por que não faz pedagogia?", um tanto relutante, respondi à pergunta com outra: "por que eu faria pedagogia?". Meu amigo, revirando os olhos, um tanto impaciente, respirou fundo e, em seguida, soltou o ar lentamente, dizendo: "Bom, pedagogia é o ponto inicial de um professor. Pense numa árvore, ela tem suas ramificações, suas raízes, podendo dar frutos e por ai vai. imagine a pedagogia como se fosse essa árvore. Todo professor, independente de sua área, precisa do método pedagógico. A pedagogia, me atrevo a dizer, é a mãe da docência. Faça-a, depois curse história. Se sua meta é fazer algo pela educação, comece pela base", tais palavras, até mal compreendidas, fizeram-me refletir.

Pois bem, fiz o Enem em 2021 e entrei para pedagogia. De fato, gostei. Há certos conteúdos que minha consciência reprova, mas os utilizo como forma de debater comigo mesmo. Mas o fato mais impressionante é o que me ocorreu durante esses últimos dias, algo pelo qual me fez querer seguir mais ainda nessa carreira, na pedagogia.

Há pouco tempo fui chamado para substituir uma monitora numa escolinha infantil e, certamente, fui de bom grado, contente. Queria essa experiência. De início estive perdido, sentia tonturas, eram tantas crianças com suas vozes alegres e incansáveis, inquietações e muitos gritos. "Será que aguento?", pensava. Mas o tempo foi passando, fui gostando e admirando cada uma delas. Atrevo-me a dizer que, pelo menos de minha parte, fiquei amigo delas. Um amigo que dá algumas broncas construtivas (risos). Depois de duas semanas, talvez até menos, eu suspirava de alegria por estar ali, não clamava pelo fim de semana, pois eu queria ficar por ali. Sentia-me tão leve, está com pessoas tão puras, cheias de suas inteligências para transmitir a nós, adultos, é tão nobre quanto a nona sinfonia de Beethoven. Jamais esquecerei da primeira cartinha cujo sentimento aquecia todo papel, tão leve e ao mesmo tempo expressivo. Criança não mente, elas sabem expressar, ao seu modo, mas sabem. Escutar um "tio, estava com saudades", é lindo. O mundo só é belo pela existência de nossas crianças.

No dia vinte de outubro foi meu último dia. No dia vinte e um, sentado numa cadeira velha, emendada, tomando café numa xícara que ganhei de um dos alunos, projetei muitas cenas vivenciadas nesses períodos. Uma delas, claro, não posso deixar de fora, é a forma tão suave pela qual fui recebido, bem acolhido pelas minhas colegas de sala. Nem preciso mencionar os alunos. Aquelas vozes miúdas, cantos celestiais. ouvir a história de todos, sorrir, me estressar, entristecer, passei por muitos sentimentos, mas a felicidade é a dominadora! Contei história a eles(a) e ficava emocionado pela forma como, sabiamente, interpretavam e respondiam às perguntas do que acabaram de ouvir. Projetei também os vários "tio, posso ir no banheiro" ou "tio, posso beber água". Claro, não posso deixar de fora minha apresentação, que narrei uma historinha... pena que fui afobado e li rápido demais. Nesse dia vinte e um a saudade já bateu. A lembrança da despedida jamais sairá de minhas memórias. O leitor pode pensar "ah, que exagero", mas não o é. Tudo isso que escrevi é o que de fato me fizeram querer seguir a carreira de pedagogo. Definitivamente: é isso. Amei aqueles alunos (a), a todos. Não há uma hierarquia para distribuir amores, criei um mundo e todos vivem nele. Crianças são espontâneas, não há erros demasiados, criança faz criancisses e nós, adultos, as guiamos pelo bom caminho. As lagrimas, enfim, desceram, solitariamente, dentro de minha casa, enquanto saboreava o café, com os olhos semi-abertos e um leve sorriso no rosto. Em outras palavras, quero fazer algo por nossas crianças.

Por isso, nesse dia vinte e um de outubro de dois mil e vinte e dois eu digo: continuarei na pedagogia e lutarei por nossa educação! Serei sempre grato pelas pessoas que puderam me dar essa experiência; às crianças que, com seus poderes luminosos e cantos celestiais, tão próximas aos céus, me fizeram entender e compreender o que eu quero.