JAMÁLI E O BONECO DE CORDA

Jamáli e o Boneco de Corda
Jorge Linhaça

Na hora do almoço Jamáli saiu para espairecer.
Caminhava a esmo pelo centro da cidade, quando a sua atenção foi despertada por um pequeno grupo de pessoas reunidos em volta de um camelô.
O que chamava a atenção de tantas pessoas era o produto que o camelô procurava vender, um boneco de corda . Nada de pilhas ou baterias, era realmente um boneco de dar corda, desses que tem uma "chave" nas costas e que a gente gira para dar-lhe movimento.
O boneco era antropomórfico, ops, quer dizer era um homem em miniatura vestido de sobretudo e tudo mais.
Andava robóticamente de um para o outro lado até que a tensão da corda se esgotasse.
Jamáli observou as pessoas ao seu redor (e a si próprio) e percebeu que o tal boneco bem que poderia personificar a cada um dos presentes, bastava apenas trocar as roupas do brinquedo.
Ficou a refletir sobre como nos comportamos no dia a dia: Acordamos, fazemos pequenas coisas em casa e partimos para as nossas tarefas diárias. Saímos para trabalhar, geralmente pelo mesmo caminho, passamos pelos mesmos lugares , prestando pouca ou nenhuma atenção ao que ocorre à nossa volta, passamos o dia executando automaticamente as nossas tarefas repetitivas até que a nossa corda se esgota e o sono nos vence.
Pensou ainda naquelas pessoas que precisam que lhes "dêem corda" o tempo todo, como se a sua mola propulsora já estivesse lasseada ou enfraquecida.
São aquelas pessoas que "vão no embalo" sempre no vácuo de quem vai à sua frente, jamais criam algo por si mesmas, são eternos seguidores ou imitadores dos que lideram, experimentam e criam.
Pensou ainda na energia despendida pelos criadores, pelos que usam a sua corda diária para fazer a diferença dentro de sua esfera de atuação, ficou espantado com o fato de suas "cordas" parecerem sempre bem azeitadas e preservadas, dando, por vezes, a impressão de serem intermináveis.
Avaliou a si mesmo e percebeu que a sua própria "corda" oscilava entre uma e outra situação. às vezes parecia desgastada, sem forças e, em outras vezes, tomava um vigor e uma força inexplicáveis.
Descobriu , dentro de si, que essa força maior vinha quando não executava robóticamente o que esperavam dele, mas sim, quando fazia aquilo que gostava ou defendia aquilo em que acreditava.
Já era hora de voltar ao trabalho e Jamáli comprou um daqueles bonecos, para lembrar-se sempre da lição que acabara de aprender.


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Jamáli é criação de Jorge Linhaça
Respeite meu trabalho, recuse imitações baratas.