Quem não gosta de poesia?

Wilson Correia*

Citando um estudo sobre a função social da poesia e do poeta que li em julho deste ano. Uma leitura de formação por excelência, mas, também, de alegre fruição. O autor desse estudo, Carlos Felipe Moisés, é mestre, doutor e livre-docente em Letras Clássicas e Vernáculas pela USP, onde lecionou. Segundo ele:

"... uma rápida visita à internet, em agosto de 2006, registra 8.410.000 ocorrências para 'Poesia' - cifra descomunal, mesmo levando-se em conta que metade não deve passar de ruído descartável. Mas devo estar sendo benevolente: é mais provável que a quantidade de ruído inócuo chegue a 90% - o que ainda assim (84.100 ocorrências interessantes para 'Poesia'?) corresponde a uma cifra descomunal. Não nos esqueçamos de que essas quantidades representam apenas o número de vezes em que a palavra 'Poesia' aparece, na Grande Rede, onde quer que seja e qualquer que seja o propósito. Ou falta de... De qualquer modo, a julgar por todos esses indícios, a velha arte de Homero e Vergílio continua, no terceiro milênio, a ter presença marcante na vida de grande número de pessoas" (MOISÉS, C. F. 'Poesia & Utopia: sobre a função social da poesia e do poeta'. São Paulo: Escrituras, 2007, p. 12).

Meu comentário:

Não sei se existirá um ser humano no mundo que não goste de poesia, essa modalidade de arte que não admite ruídos quaisquer. O que poderá ser ruído para uma pessoa de cariz elitista taxionômico, bem pode ser o modo como o belo, o bom e o virtuoso de lastro intuitivo e sentimental e emocional emana de seres humanos, os quais, aliás, fazem da poesia um caminho à educação de si, à busca da humanização.

Para ficar com a metodologia do texto citado, hoje (23.10.2009) se você digitar o termo "Poesia" no Google, encontrará os seguintes números:

- Poesia de amor: 9.960.000;

- Poesia de amizade: 1.850.000;

- Poesia dia das mães: 463.000;

- Poesia romântica: 3.240.000;

- Poesia para mãe: 1.650.000;

- Poesia infantil: 1.710.000;

- Poesia de aniversário: 2.360.000;

- Poesia concreta: 591.000;

- Poesia de Fernando Pessoa: 904.000;

- Poesia amor: 5.530.000.

Um universo de poesia. Mas não forçadamente. É decorrência natural daquilo que somos como pessoas humanas: não apenas um cérebro seco ou uma razão lógica e àrida, mas seres integrais em quem o sentir pesa tanto quanto o raciocinar. E deve ser por isso que seja tão difícil encontrar alguém que não goste de poesia. Ai do filósofo e do cientista que não se serve da poesia em seu processo de autoeducação!

Ali onde o cientista cala e onde o filósofo não encontra nada além do silêncio e ali onde o teólogo fecha questão aparece o senso poético do ser humano: não apenas para quebrar os silêncios anteriores, mas para nos mostrar que a vida mesma está para além de qualquer limite epistemológico, não é classificável e aí está para ser vivida, sentida e ornada com a boniteza que é a de fazer o belo infinito significar o finito da existência no qual temos de nos conformar.

Salve nosso senso poético!

Salve a poesia!

Hoje, amanhã e sempre!

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*Wilson Correia é filósofo, psicopedagogo e doutor em Educação pela Unicamp e Adjunto em Filosofia da Educação na Universidade Federal do Tocantins. É autor de ‘TCC não é um bicho-de-sete-cabeças’. Rio de Janeiro: Ciência Moderna: 2009. Endereço eletrônico: wilfc2002@yahoo.com.br