Aprenda*

Wilson Correia

Dedique-se a aprender, na escola e na vida.

Aprenda a discernir o bem e o mal, sem menosprezar a destreza cognitiva para identificar os criadores de cada um deles. É preciso saber de que lado você ficará.

Aprenda a extrair lições das circunstâncias vividas – ainda que o ser humano aprenda com as tentativas de corrigir os erros que comete, você não terá tempo bastante para praticar todos os erros que estarão à espreita em seu caminho.

Aprenda a lembrar-se de que falar e ouvir podem ser modos de aprender e ensinar e que esses atos dependem da circunstância e do lugar.

Aprenda os opostos: a paz com os belicosos, a sutileza com os grotescos, a fineza com os rudes, a gratidão com os desalmados e o respeito com quem não sabe respeitar.

Aprenda que a ilusão de saber tudo é o que cerra as portas do crescimento pessoal, profissional e social de uma pessoa. Abrir-se ao aprender é abrir-se à vida.

Aprenda que a jactância epistêmica pode esconder um medroso que não sabe lidar bem com o próprio ignorar e, por isso, age com a impostura do grande sabedor.

Aprenda que a realidade nunca será produto de nossos caprichos, mas, sim, o resultado de condições objetivas e subjetivas. Não queira ver na realidade o que ela não tem.

Aprenda que amor é envolvimento, ódio é oposição e que esses sentimentos fazem parte da vida, mas aprenda, também, que a indiferença pode ser salutar.

Aprenda que aprender é a melhor ocupação. Bens materiais são perdidos e o poder não é eterno, mas o que é compreendido por meio do aprendizado é vitalício.

Aprenda que aprender por força da vontade alheia é escravidão e que o distintivo da inteligência é o aprender como se respira, na leveza do que é natural.

Aprenda que as verdadeiras lições ocorrem na simplicidade da vida mesma. O que é demasiadamente complexo só potencializa o ignorar.

Aprenda que em termos de aprendizagem a quantidade não define o jogo, mas, sim, a qualidade do que você analisa e compreende.

Aprenda que não resolve querer saber mais que o outro. O bom é buscar saber mais do que sabia ontem, pois a auto-superação é o que conta e nos sustém.

Aprenda que no aprender pode haver estranhamento, espanto e admiração, mas que ele jamais acolherá o medo, o cansaço, a covardia e o arrependimento.

Aprenda que o que não está a aprender natural e alegremente talvez esteja violentando seu estilo e, por isso, torna-se algo a ser deixado na caixa do sempre ignorar.

Aprenda que opositores e adversários existem em sua vida para dar equilíbrio à sua ignorância: eles podem mostrar quão pouco você sabe daquilo que julga saber.

Aprenda que saber é bom, mas saber e vivenciar na prática o que se sabe é o que dá colorido à vida, ao trabalho e à sua existência como ser social.

Aprenda que se já colocou em sua cabeça que já sabe algo, então, daí em diante, esse algo jamais poderá ser realmente aprendido por você.

Aprenda, de modo humilde e sereno, que as coisas às quais mais dedica esforço em ensinar são exatamente aquelas sobre as quais mais precisa aprender.

Aprenda, em primeiro lugar, que todo o aprendizado de uma pessoa não liquidará nunca a ignorância pessoal que ela pode ostentar.

A graça está na jornada de querer saber.

* Para minha filha.