A última aula

Hoje é nosso último encontro. Comunico a vocês as presenças e as notas. Se vieram buscar apenas isso, sintam-se satisfeitos após eu dizer quantas vezes vieram à minha aula e quanta nota registram. Se aqui compareceram por algo mais, tenho outras coisinhas a dizer.

É simples. Acredito que vocês se fizeram presentes às nossas atividades não apenas em busca de certificação, pois formação era o nosso propósito e desafio. Mas não esqueçam: vivemos em uma sociedade certificadora.

E se perseguem formação, espero que levem o entendimento de que conhecimento é para gente ser mais gente, e não para capacitar o sujeito assujeitado. Saibam, porém, que há assujeitados por opção.

Conhecimento é para impulsionar a vida robusta, e não a nulidade. Por isso deve ser uma conquista diuturna. Entretanto, sabemos que tem gente que só estuda na véspera do exame.

Saibam que a liberdade é o nosso fim. Devemos buscá-la do mesmo modo como sorvemos o ar que a natureza nos coloca ao nariz. Enquanto entre nós houver um escravo socialmente criado, não podemos dizer que somos verdadeiramente livres.

Sejam responsáveis. Quer dizer, respondam pela vida sã e não aceitem injustiças que, atingindo o semelhante, venham atingir vocês. Isso tem acontecido muito em nossos dias.

Detestem a maldade, porque ela pode magoar os jovens corações que trazem no peito. Se mágoa houver, deixem que ela vá embora, contanto que não queiram acertar as contas com o primeiro que aparecer à sua frente.

Odeiem a mentira, sobretudo aquela que visa a fortalecer a dominação do forte sobre o fraco. Há certos discursos ideológicos que precisam ser desconstruídos para que a verdadeira realidade salte aos nossos olhos.

Rechacem a desigualdade. Busquem o respeito ao diferente e diverso, o qual leva a acolher a pessoa pelo que ela é, e não pelo que ela tem. Nosso patrimônio maior é a nossa humanidade.

Acreditem em vocês. Sem que tenham os olhos erguidos e sem que digam que sabem, querem e podem, ninguém acreditará em vocês. O autovalor é o ponto de partida para toda e qualquer conquista.

Amem o amor, por mais que digam que isso é pieguice. E não tolerem que nenhum irmão seja considerado inferior. Ninguém é isso, a menos que permita, inclusive você que está aqui.

Por favor, façam desse mundo algo melhor para mim, para vocês e para nossos semelhantes. Os astutos às vezes são vitoriosos por conta de nossa inação e braços cruzados.

E quando o sol estiver indo atrás da serra, gentileza me convidar para aquela conversa sem compromisso, pelo simples prazer de estarmos na amizade –se é que amigos sinceros foi o que aprendemos nessas aulas nas quais nos projetamos humanos e candidatos a momentos bons.

Abraços, sempre!