Alegrias e tristezas - V

Mal coloquei as malas no quarto do hotel, já saí pelas ruas de Évora, com o coração aos saltos. Queria rever minhas duas grandes amigas a quem devo eternamente gratidão por tudo que fizeram pelo meu filho Rodrigo.

Minha irmã Luzia me acompanhou. Ela queria conhecer minhas amigas.

Eu sabia que elas estavam idosas e um pouco doentes. Não avaliava o grau do problema.

Primeiro fui a casa da Dra. Teresa. Emília, sua auxiliar, me recebeu amavelmente. Entramos e ela me preparou o espírito para conhecer a dura realidade. Teresa, com o mal de Alzheimer já em grau adiantado, não se sentia bem.

Subi os degraus relembrando os dias felizes que ali passei com meu filho e meu esposo. Parecia um sonho entrar novamente naquela casa portuguesa.

Já entrei na sala onde estava Dra. Teresa engasgada pela emoção e mal pude cumprimentá-la. Perdi a fala.

Emília dizia:

- Dra. Teresa, é a mãe do Rodrigo.

Dra.Teresa respondia:

- Eu gosto do Rodrigo. Eu gosto muito do Rodrigo.

E ficou nisso. Ela não me reconheceu. Eu não conseguia conversar. Eu chorava por dentro segurando as lágrimas para não serem derramadas ali na presença daquela senhora que foi uma mãe para meu filho durante todo o tempo que morou em Portugal.

Para despistar, pedi à Emília que mostrasse a casa para minha irmã. Ela nunca havia entrado numa casa portuguesa. Emília, sempre muito atenciosa, andou conosco pela casa. Enquanto isso, Palmira, a outra acompanhante, ficou na sala fazendo companhia para a doutora.

No cômodo das visitas, num porta-retrato estava minha foto abraçada com a Dra. Teresa. Havia também fotos do Rodrigo e de meu marido. Tudo estava bem conservado.

Emília contou-me que a outra minha amiga, Maria de Jesus, que morava defronte à casa da doutora, foi levada para um asilo. Aí foi a segunda tristeza pois pensei que pelo menos ela estive bem.

Tentei me controlar. A tristeza me sufocava. Precisava ir para o hotel onde eu pudesse chorar e desabafar.

O tempo é implacável! Ele não tem dó de nosso coração!

(continua)

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 26/10/2011
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