Minha melhor amiga

“Minha melhor amiga”

Sueli era uma criatura íntegra, educada, religiosa e completamente dedicada ao ensino e à criança. Diretora da Escola em que trabalhávamos, eu era sua Diretora-adjunta e o nosso relacionamento, além de profissional, era, sobretudo, de pura confiança... Eu a admirava pela postura séria e, ao mesmo tempo, meiga ao lidar com todos: pais, alunos e corpo docente, incluindo o pessoal do apoio. Eu a conheci quando Ela era Supervisora Educacional num DEC e eu secretária da Diretora desse mesmo DEC. Ela fazia trabalho externo, visitando as escolas e só nos víamos uma vez por semana, quando ela fazia o plantão semanal. Uma das minhas funções, era receber e arquivar o material que chegava para o pessoal que fazia o trabalho externo...

Nessa época, Sueli fazia o concurso para Diretores de Escola e, mesmo conhecendo-me pouco, convidou-me , caso passasse, para ser sua adjunta... Ela passou, eu aceitei e, em pouco tempo, estávamos trabalhando numa escola pequena, com 05 salas de aula, gabinete, cozinha e banheiros das crianças. O local era de difícil acesso na zona rural e assim que houve concurso de remoção, dois anos depois, fomos para outra escola, na Vila da Penha, bairro bem mais elitizado. Era pequena, também, com cinco salas que comportavam somente 25 alunos. Nesse período da nossa parceria, fizemos um trabalho excelente. Através da sua experiência como supervisora educacional, realizávamos, todo ano um planejamento que era seguido religiosamente. Sueli fazia questão disso. Em geral, eu trabalhava pela manhâ, dava entrada nas turmas, fazia todo o trabalho de escrituração e respondia por ela, até ela chegar... Quando chegava, antes que eu lhe passasse o serviço, Ela fazia questão de passar em cada sala de aula para cumprimentar os alunos... Essa atitude, e tudo o mais, deixava-me cada vez mais encantada...

Depois de 22 anos de convivência no trabalho, do qual éramos entusiastas e, por isso mesmo, nossa amizade já estava mais do que fortalecida. Estava na hora de nos aposentarmos...

Anos antes de nos aposentarmos, cursamos uma Faculdade, Ela, Direito, Eu cursei Pedagogia... O curso universitário, proporcionou-nos uma ascensão ao cargo de Especialista de Educação...

Mas... O magistério estava em nosso sangue e, ao nos aposentarmos, partimos para outro concurso: Sueli concorreu como professora do Supletivo no Estado e Eu concorri ao Município do Rio de Janeiro. Passamos e foi aí que nós nos separamos . Formada em Direito, foi convidada a dar aula no presídio e eu voltei a dar aulas numa Escola em Santa Cruz.

Com a experiência que tinha na área administrativa, fui logo requisitada para trabalhar em uma escola mais próxima de casa, como Encarregada de Secretaria. Nessa Escola, havia uma vaga para Coordenadora de Turno ; então, não hesitei, já cansada de trabalhar em secretaria, solicitei, para mim, a vaga existente e fui aceita e assim tive a felicidade de voltar a ter contato direto com os alunos, trabalho, aliás, que era o meu forte, pois sempre tive muita afinidade com adolescentes. Apesar da minha idade (50 anos) era querida por eles e sempre que tinham problemas, tanto no aprendizado como no comportamento, até mesmo nos

problemas caseiros, vinham a mim para lhes dar conselhos. Para eles, eu era uma espécie de amiga, a quem confiavam seus segredos, seus conflitos, até mesmo de origem amorosa e sexual... A maior parte desses alunos, por dificuldade no aprendizado, cursavam, ainda, o ensino fundamental, muitos já com 16 ou 17 anos... Esses últimos 11 anos da minha carreira, foram gratificantes porque aprendi que a rebeldia do adolescente, está na falta de atenção dos adultos que os qualifica de mal educados e coisas mais... Quando tratados com educação, retribuem da mesma forma...

Voltando á minha amiga Sueli, enquanto estivemos separadas, sempre nos comunicávamos por telefone, principalmente nos nossos aniversários, na Páscoa, Natal e Ano Novo. Eram datas nunca esquecidas...

No Natal de 1993, telefonei em vão para a casa dela e no Ano Novo, também. Julguei que estivesse numa Colônia de Férias em Miguel Pereira, onde costumava descansar.

Deixei passar o Ano Novo e, ainda sem notícias, liguei para uma nossa amiga e ela me informou que a Sueli havia fraturado o joelho e estava na casa do filho (único, por sinal) impossibilitada de andar. Quis saber o endereço e ou telefone para visitá-la. Nada feito, ninguém sabia...

Não tendo mais notícias, esperei pelo meu aniversário, sabendo com certeza, que ela me ligaria... Na véspera do meu aniversário, dia 22 de março, nossa amiga deu-me a triste notícia de que Sueli estava internada, com um câncer de pulmão, já em estado terminal... Foi um baque terrível, as lágrimas rolaram silenciosas . Não podia entender... Por que não me avisaram? Eu a teria trazido para minha casa e cuidaria dela. O filho e a nora não eram confiáveis, pois só lhe davam desgostos... Soube depois que ela não queria que eu soubesse, só permitiu que me avisassem quando já estava no fim. Naquela noite mesmo, fui para o hospital, passei meu aniversário lá com ela e fiquei 3 dias e 3 noites até na terça-feira, quando chegou para visitá-la uma outra amiga que ficou revezando comigo.

Apesar do seu estado crítico e da magreza profunda, não reclamava, não chorava e nem gemia. Não conseguia falar porque o câncer já atingira a traquéia, mas a sua lucidez era evidente. Permanecia mais sentada do que deitada, sempre em posição meditativa... Para alimentá-la, somente líquido, assim mesmo, com muita dificuldade...

No dia 18 de abril de 1994, Sueli faleceu. Não assisti à sua morte porque não era o meu plantão, porém, soube pela outra colega (Rosa) que, como num passe de mágica, ela começou a falar, agradecendo a mim e à Rosa o que tínhamos feito por Ela e pedindo a Deus que nos abençoasse...

MINHA INESQUECÍVEL E QUERIDA AMIGA SUELI: AONDE QUER QUE ESTEJA, PENSAREI SEMPRE EM VOCÊ COM SAUDADE... SE O CÉU EXISTE, TENHO A CERTEZA DE QUE VOCÊ O GALGOU COM SUCESSO, SENDO BEM RECEBIDA PELO PAI ETERNO...

Tete Brito
Enviado por Tete Brito em 11/08/2012
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