Divagação natalina - 2012

Volto às aulas do Professor Soares, o temido Professor Soares, que de costas para a turma escrevendo no quadro perguntava – quem falou? Mas, como um vidente, antes da resposta, já decidia: menino, pode sair da sala! E não ficava nisso... havia ainda um complemento punitivo: “Na Praça Tiradentes há um Café, que tem na parede uma pintura com um texto em latim enaltecendo o romântico Francisco de Mello Palheta; vai lá, copia o texto e na próxima aula discuta o texto conosco. Assim, fiquei sabendo em latim, que Palheta era um paraense de Belém, que em 1727 foi até Caiena, Guiana Francesa, para ajudar a resolver uma pendência de fronteira; não sei se resolveu o caso diplomático, mas, ficou interessado em trazer da viagem grãos de café etíope; teve um romance com a mulher do Governador e na sua despedida ela lhe deu um buquê de flores trazendo no bojo sementes do café. Leonídio Ferreira enaltece em seu livro o romântico responsável pelo ouro, que num futuro passou a ser importante na economia do Brasil. Hoje, lembrei do Professor Soares, que profundo conhecedor do latim, usava de psicologia para educar seus alunos; nas aulas, citava sempre o grande Professor Vandick Londres da Nóbrega, que ora releio em seu Latim Básico comprado no “sebo” Berinjela por cinco reais. Gostei do comentário constante do livro, que imagino ser de um filho de Vandick; “ Acreditamos que a simples identificação do ensino do latim com o autor já constitui para nós, da família, um motivo de grande satisfação e orgulho” ( Marcelo Nóbrega ).- Delia est descipula: Terentia et Lucia sunt etiam discipulae. A língua ficou tão fora de foco, que nem acento gráfico consigo para colocar nos ii e uu. Graças ao Professor Soares decorava os trechos das Catilinárias de Marco Túlio Cícero e me exibia cheio de prosa repetindo:”Quousque tandem abutere, Catilina, patientia nostra?” a interrogação caia no vazio em meio aos risos dos presentes. A lembrança de Soares me transporta para os inúmeros pontos fracos de minha cultura...uma pessoa que nem latim sabia! Na vizinhança do Natal nossas lembranças retornam cheias de melancolia; as velhas amizades, as notas baixas, os estudos sempre insuficientes, sem performances, sem tantas alegrias; saudades dos pequenos e dos grandes amores, embora eu saiba, por ouvir dizer, que os grandes amores não deixam saudades, mas mágoas; saudades das merendas, dos almoços e jantares, dos piqueniques e dos lupanares, estes, os conhecia, também por ouvir dizer...Todos aqueles que passaram em minha vida, dando uma contribuição, mínima que fosse, para que eu me sentisse vivo, e principalmente, àqueles que deram sentido à minha vida, fazendo-me vivê-la intensamente, como vocês, desejo um Feliz Natal, repleto de boas e más lembranças, mas verdadeiramente um Feliz Natal.