Os mestres de quem me lembro

Dos professores e professoras que já passaram pela minha vida, existem aqueles dos quais me lembro e aqueles dos quais me esqueço.

Lembro-me daqueles e daquelas que aliavam profundo domínio teórico com uma prática conseqüente.

Esqueço-me daqueles e daquelas que não se envolviam, nem com a teoria, nem com a prática, como se a vida fosse merecedora de um espontaneísmo cego, frio e indiferente.

Lembro-me daqueles e daquelas que, além de ética, tinham afeto. Além de firmeza, tinham ternura. Além de responsabilidade, tinham alegria.

Na mesma proporção, esqueço-me daqueles ensinantes e daquelas professoras que faziam-se semi-deuses, como se o conhecimento fosse passaporte para o orgulho e o nariz empinado. Esqueço-me dos grosseiros, dos tristes e, muito... muito mais, daqueles mal-educados.

Lembro, com alegria, daqueles mestres e daquelas ensinantes que se esforçavam para fazer com que o conhecimento fosse uma ponte entre mim e meu próprio eu.

Esqueço-me daqueles professores e professoras que fizeram-me cindido, divorciado daquilo que constitui meu ser, lançando-me na alienação da ignorância pela via do não-aprender.

Esqueço-me dos profissionais da educação que faziam do ensinar um modo de ir tocando a vida, sem brilho nos olhos, sem entusiasmo e sem paixão.

Lembro-me de todos os professores e mestras que, para além de uma profissão, deram-me uma bandeira de luta, alimentaram meus desejos de humanidade, respeitaram meus sonhos e me fizeram cônscio das minhas necessidades mais profundas.

Esqueço-me daqueles mestres bonzinhos, que passaram a mão na minha cabeça, que me deixaram ir adiante como uma maneira de me ignorar, não se importar comigo, nem de compartilhar os desafios da auto-educação.

Sim, eu me recordo... Recordo-me dos mestres e mestras que não me doutrinaram, fizeram-se de escada para meus passos e me mostraram que eu tinha um caminho a percorrer que ninguém poderia fazer por mim.

Esqueço-me daqueles professores e professoras burocratas, apegados mais às regras do saber do que ao saber em si. Desses eu me esqueço porque eles não me acrescentaram nada além da certeza de que foram plenamente dispensáveis, ainda que nem a própria dispensabilidade tenham conseguido me incutir.

Enfim, eu me esqueço daqueles professores e daquelas professoras que simplesmente estavam na profissão.

Lembro-me, entusiasticamente, daqueles e daquelas que, não sendo anjos, nem demônios, não se colocavam à minha frente, muito menos atrás de mim. Humanos, lembro-me deles ao meu lado, mostrando-me que na relação pedagógica faziamo-nos ontologicamente iguais e que apenas na epistemologia é que éramos diferentes, sendo essa diferença a justificava da nossa interação.

Hoje, Dia do Professor e da Professora, registro aqui o meu muito obrigado a todos e a todas de que me lembro: vocês estão em minha memória exatamente porque, ao fazerem do ensino a sua razão de ser, não se esqueceram de conquistarem-se a si mesmos em minha mente e em meu coração.

Parabéns, mestres! Que o reconhecimento do valor de sua prática chegue a tempo de lhes trazer alegria, dignidade e, sobretudo, qualidade existencial.