Para um poeta

Não insista em me falar

Andas dizendo sobre meus versos

Achas mesmo que sou poeta?

Logo tu que brilhas no soneto shakespeariano

Sei que não és de elogios fáceis

Conheço o silêncio da sua alma

Aquieta-te, poeta errante

Não deixes que tua mente borbulhe tanto

Acalme a fluidez das tuas palavras

Elas as vezes traem, mesmo controladas pela tua mente brilhante

Jamais serei o poeta que tu falas

Vivo num dissonante mundo ainda por vir

Brigo com as palavras

Discuto com as frases e orações

Nada comparado com sua cultura diletante

És amigo, és irmão, és ás, és doçura

Se cruzei com tuas veredas lá atrás

Não pude acompanhar teus passos

Pisas forte, longe, sem limites

Tem a chave do mistério e do futuro

Como poderia eu te alcançar

Se vivo ensimesmado no meu pôr do sol

Vivendo de ar, de brisa, de amor, de poesia

Releves, poeta

E deixe que a razão te faças presente

Entrego-te esses versos tortos

Sem métrica, sem rimas, sem aliterações, sem decassílabos

Expelidos dum coração nem tanto grato, tanto avexado

Mas que conhece os meandros do saber viver e contar

E se meus dedos dedilham essas palavras que exclamam

Perdoe-lhes por sempre se deixarem escapar

Não resistem a emoção, a loucura, aos devaneios

Se tonteiam pelas noites negras, pelos marulhar das ondas

Envio-te pelas redes sociais

Se não te apraz ser assim, envio-te também por telepatia

Sei bem que és visionário, que lê pensamentos

Decerto terás nítido que é para ti

Esse poema tem voz, tem traço, tem destino