Álbum de Recordações 

Faz de Conta

Faz de conta, que eu chamava Maria e você chamava José. Eu estava “de mal” com você . A gente tinha brigado. Faz de conta que eu queria ir ao cinema, mas você não gostava de cinema. Você gostava  de andar de bicicleta. Daí, a turma tinha combinado um passeio de bicicleta ... Faz de conta que você era o meu namorado e eu era a sua namorada.

Quando a gente ia passear, você podia por a mão no meu ombro. No domingo , depois do almoço, a turminha ia passear, (faz de conta que namorava). No meio do caminho, faz de conta que havia um vendedor de garapa e que você pagava a minha (porque era o meu namorado). Ninguém tinha medo de tomar sol, era inverno, e voltávamos para casa com o rosto afogueado (faz de conta que era do sol!).
 
Faz de conta que no meu álbum de recordações você escreveu o poema "As duas flores" de Castro Alves. Faz de conta que você era bem mais velho e sabia quem era Castro Alves; sabia também o que era "unir as rosas da vida", sabia o que era a "verde rama do amor", mas eu... faz de conta... que eu não sabia...
 

AS DUAS FLORES
Castro Alves (Espumas Flutuantes)


São duas flores unidas,
São duas rosas nascidas
Talvez no mesmo arrebol,
Vivendo no mesmo galho,
Da mesma gota de orvalho,
Do mesmo raio de sol.

Unidas, bem como as penas
Das duas asas pequenas
De um passarinho do céu...
Como um casal de rolinhas,
Como a tribo de andorinhas
Da tarde no frouxo véu.


Unidas, bem como os prantos,
Que em parelha descem tantos
Das profundezas do olhar...
Como o suspiro e o desgosto,
Como as covinhas do rosto,
Como as estrelas do mar.

Unidas... Ai quem pudera
Numa eterna primavera
Viver, qual vive esta flor.
Juntar as rosas da vida
Na rama verde e florida,
Na verde rama do amor!



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