FILHA DO AMOR

Fui presenteada com minha menina numa noite linda de amor.

Tão logo passou a existir e ela já dava sinais de sua grande atuação na minha vida. Me acordava à noite com seus movimentos dentro de mim. E respondia às minhas indagações com chutes ora delicados, ora fortes. Ou ficava quietinha, quando eu lhe cantava músicas de ninar e dizia o quanto ela era amada e esperada. Não quis saber pelo ultrasom o sexo do bebê que eu carregava. Não precisei. Sabia que era ela, minha filha. Ela mesma me disse, com seus chutes, assim como escolheu seu nome e descartou outros. Não precisei de tecnologia para saber que eu carregava minha filha desejada. Meu instinto, minha entrega, meu contato e nossa cumplicidade nos aproximou, nos mostrou antes mesmo de nos vermos cara a cara. Sentíamo-nos e comunicávamos.

Sua chegada foi o dia de maior emoção de minha vida. Entreguei-me ao pranto de alegria e me inebriei da luz do amor, agora em meus braços. O amor revelado numa linda menina, cujo nome escolhemos juntos: Jade.

Acompanho cada dia de sua existência com a mesma emoção e felicidade por tê-la. Mas não posso negar que outros sentimentos surgiram: preocupação, medo, orgulho, dó, raiva, esperança, surpresa, impaciência... tantos sentimentos, dia após dia, vendo-a crescer e a mudar feições e interesses; a tornar-se ela, e não o que eu fazia dela.

Escolhia suas roupas, suas idas e vindas, seus horários, penteados, acessórios. Toda noite tinha que carregá-la pra cama, porque queria dormir no meiozinho do papai e da mamãe. E nos encheu de tanto carinho e de momentos tão íntimos e felizes que perdíamos a hora do trabalho, desmarcávamos compromissos, dávamos escapulidas no meio da tarde só para beijá-la, abraçá-la, ficar perto. Sentir e viver o nosso amor.

Agora cresce, cresce mais a cada dia. Cresce e transforma-se. Passa horas trancada no quarto ouvindo músicas românticas, ou deitada na varanda contando estrelas. Minha menina agora quer mostrar-se ao mundo; expor suas idéias, discutir a relação familiar, quer espaço para a sua plena liberdade. Ai!

A gente se prepara para ser mãe, espera 9 meses até nascer; mas esquecemos que enquanto crescem, nós mesmos estamos preparando nossos filhos para desvencilhar-se de nós. E não acreditamos quando os vemos tão independentes, tão “senhores de si”.

E assim sinto minha menina, crescida, crescendo, apaixonando, sorrindo, com sonhos seus, desejos particulares.

Eis aí minha menina, minha Jade. Linda, graciosa, amada, independente, segura, inteligente, justa, responsável, recatada, apaixonada.

Que leve para sua vida o que quiser de mim, mas uma parte não depende da sua escolha. Já está no seu corpo, no seu todo desde sempre: o amor com que você foi desejada, gerada e parida. Você foi feita de puro amor, filha. Esse mesmo amor que a abençoa a cada amanhecer e que eleva o coração em preces de agradecimento por sua existência, sua linda existência, ao anoitecer.

Eu tenho uma filha, que cresce para o mundo. De mim, leva uma pintinha no canto esquerdo da boca e um amor incondicional. Minha Jade, minha pedra preciosa, minha menina. Sempre.

Rosimere Ferreira
Enviado por Rosimere Ferreira em 02/07/2008
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