Alguém está à minha espera

Alguém está à minha espera

Frei Estevão Nunes, OP

Alguém que não precisa de mim, diante de quem eu não sou nada, não passo de um mundo de imperfeições e de vícios. Alguém que tem tudo, e que por isso não pode esperar que eu venha aumentar-lhe as posses, ou as honras, ou a glória.

Mas é Alguém que tem dó de mim, de minha fraqueza, de minhas misérias. Alguém que deseja ardentemente fazer a minha felicidade, felicidade completa e duradoura, e por isso quer dar-me o maior de todos os bens: Ele mesmo, o Cristo. É Ele quem me espera, estende-me a mão, para que do abismo onde me encontro eu possa estender-lhe a minha, agarrar-lhe, e ser içado para o alto. Foi para mim, foi pensando em mim, que Ele “deixou” o seu céu, a majestade de seu trono, e desceu a este mundo, tomou um corpo igual ao meu, submeteu-se às agruras da pobreza, da fome, da perseguição. Para ser igual a mim. Igual em tudo.

Exceto no pecado. Eu tinha uma dívida enorme para com Deus, a dívida do pecado. Mas uma dívida tão grande, que mesmo se eu desse a Deus a minha vida, a vida de todos os homens, os bens todos do mundo, eu não poderia pagá-la. Porque o pecado é contra Deus, e Deus é infinito. E a vida dos homens vale tão pouco diante de Deus.

E Cristo entregou a sua vida a Deus, em meio a sofrimentos terríveis. Ele é Deus, sua vida tem valor infinito, então Ele pagou a minha dívida. Já não sou mais inimigo de Deus, sou seu amigo, seu filho. Pelos merecimentos de Cristo!

Mas como continuo mau! Prefiro as coisas da terra, que me afastam de Deus; prefiro o meu orgulho, prefiro ser teimoso. E no entanto Cristo continua a estender-me a sua mão. E me fala. De tantos modos. Na Eucaristia. Na confissão. No Evangelho. Pelas palavras de sua Igreja, dos seus ministros. Deixou as noventa e nove ovelhinhas dóceis, fechadas no aprisco, e vem à minha procura, eu, ovelha rebelde, tresloucada. E me estende a mão. E fica assim me esperando, olhando-me com esse olhar tão doce e tão profundamente magoado pela minha ingratidão. Que me resta?

Apenas levantar a minha mão para pegar a dele. Reconhecer que fui louco, que preciso dele; que onde estou, no meio dos espinhos, dos buracos, das misérias desta terra eu não posso ser feliz. Que bens são estes que a terra me dá? Me fartam tão logo, deixando-me apenas a decepção de ter esperado neles. E como então esperar deles a felicidade? Como pude enganar-me desse modo, por causa desses bens falazes abandonando o doce Cristo, que mesmo com os sofrimentos me promete e me dá a felicidade, a paz, a verdadeira satisfação de espírito?

Cristo, não te canses, estende-me ainda essa Tua mão forte e afável; eu vou agarrá-la, para não soltá-la nunca mais.

Extraído de: Nunes, Frei Estevão OP. Coisas que eu penso... e sinto! Curitiba: Gráfica Vicentina, 1992.

Fonte: Revista Shalom Maná

santidadesh
Enviado por santidadesh em 15/02/2006
Código do texto: T112204