Eu???!!! Fazer Psicoterapia???!!!

Eu???!!! Fazer Psicoterapia???!!!

Laura Martins

Eu, fazer piscoterapia? É possível que essa pergunta nunca tenha lhe ocorrido, afinal, só procuramos esse tipo de ajuda quando algo dentro de nós não vai muito bem. Esse algo negativo, que chamaremos de “sintoma”, é mensageiro de um significado e só vem a desaparecer quando sua mensagem for compreendida.

O mesmo acontece quando procuramos um médico, um dentista ou até mesmo um personal trainer, porque alguma parte do nosso corpo está acusando um certo tipo de desconforto, dor ou desequilíbrio. Por exemplo, a famosa dorzinha de cabeça também é portadora de uma mensagem, que pode ser: falta de sono, fome, estresse, disfunção hormonal, etc. Existem também os sintomas espirituais, aqueles que dificultam nossa vida de intimidade com Deus: falta de paz, inquietude, impaciência, desânimo, mornidão, egoísmo, etc. Nesse caso, costumamos procurar um sacerdote para a confissão dos pecados ou um leigo que possa rezar por nós e nos orientar para Deus.

Segundo Victor Frankl, fundador da Logoterapia, cada vez mais os psicólogos são procurados por pacientes que os confrontam com problemas humanos, com questões como: “Qual é o sentido da minha vida?” A necessidade de uma psicoterapia acontece a partir de sintomas existentes na alma revelando uma incapacidade direta ou indireta de ser feliz. Existem doenças da alma que estão intimamente ligadas ao sentido da vida e uma psicoterapia pode ajudar na construção, recuperação e/ou descoberta deste sentido.

Contudo, existem também os sintomas que não estão diretamente vinculados à questão do sentido, mas podem dificultar a realização do mesmo, como por exemplo: as doenças psicossomáticas, o baixo ou alto nível de ansiedade, as fobias, dificuldades de comunicação, descontrole emocional, timidez, etc. Esses sintomas podem até afetar outras áreas da nossa vida, como o físico e o espiritual. Não é raro ouvirmos a seguinte afirmação para problemas de saúde: “Isso é psicológico!” E por ser psicológico não quer dizer que não seja verdadeiro, mas que é necessário investigar as raízes do sintoma físico, pois uma causa psíquica pode estar condicionando-o.

Vivemos numa época em que os fatores protetores da saúde psíquica foram rebaixados. Houveram transformações acentuadas, mudanças de valores, modificações sociais e tecnológicas às quais as pessoas não conseguiram adaptar-se com suficiente rapidez. As estruturas familiares desmoronaram, as concepções do mundo foram abaladas, o homem moderno começou a buscar o prazer e foi perdendo de vista o sentido, tornando-se cada vez mais “desprovido de prazer” até cair num vazio existencial.

O homem sadio busca a realização de um sentido, e somente à medida que vai encontrando conteúdos de sentido que enriquecem sua vida, ou seja, dedicar-se a uma obra ou causa, a um objetivo autodeterminado, à família, ao ambiente, aos amigos, etc..., é que encontra também a felicidade e terá fatores protetores que o livram de crises mentais e psicossomáticas.

O homem que busca exclusivamente o prazer, ou evita o desprazer, na medida em que se fixa nesta atitude, torna-se infeliz, ou seja, aumentam seus fatores de risco, que podem levá-lo a desenvolver doenças psíquicas. Em geral, pessoas assim estão sempre à procura do que a vida pode lhes oferecer de bom, e se sentem pouco capazes de perguntar o que a vida espera delas. Na verdade, o crescimento é a recompensa da dor e dos sacrifícios, abdicar deles é também abdicar da tarefa de construir seu sentido de vida. O homem e o sentido de sua existência se constróem a partir de suas escolhas. Não tomar posse de seu plano de vida é deixar sua existência ser um “acidente”. Transmutar o “assim se deu” no “assim se quis” é o grande salto que o homem deve dar para a busca da felicidade.

A iniciativa por uma psicoterapia deve partir daquele que se reconhece necessitado de ajuda; no caso de crianças, pelos pais que assumem a consciência desta necessidade. No livro do Eclesiástico (capítulo 38), o Senhor nos fala dos médicos e medicinas, e aqui incluo também os psicoterapeutas ou médicos da alma: “Honra o médico por causa da necessidade, pois foi o Altíssimo que o criou. Toda medicina provém de Deus...se estiveres doente não te descuides de ti, mas ora ao Senhor, que te curará. (...) Em seguida, dá lugar ao médico, pois ele foi criado por Deus; que ele não te deixe, pois sua arte te é necessária. Virá um tempo em que cairás nas mãos dele. E ele mesmo rogará ao Senhor que mande por meio dele o alívio e a saúde ao doente, segundo a finalidade de sua vida”.

É interessante observarmos que nesta Palavra Deus frisa a importância de não nos descuidarmos da nossa saúde, quer do corpo, quer da alma. Exorta-nos ainda a dar lugar ao médico, ou ao psicólogo, pois desta forma estamos dando lugar a Ele, que se manifesta através da ciência, para curar e amar seus filhos.

O ser humano apresenta uma unidade físico-psíquico-espiritual na sua totalidade e todas essas dimensões da sua pessoa devem caminhar em equilíbrio ao longo do seu desenvolvimento. A psicoterapia visa a integridade do homem, de modo que o físico, o psíquico e o espiritual caminhem juntos, pois só assim se alcança a felicidade. O espiritual não pode caminhar sozinho sem as dimensões psíquica e física, da mesma maneira que o homem não se realiza apenas exercitando o seu corpo, ou sua mente. O trabalho da psicoterapia é ajudar o homem nos seus sintomas psíquicos de modo que ele possa ser capaz da experiência humana e espiritual mais rica e profunda, que é a experiência de amar e ser amado; experiência que significa abraçar e ao mesmo tempo suportar inúmeros finais e inúmeros recomeços. O amor em sua plenitude é uma série de mortes e renascimentos, e é nesta experiência que o cristão reconhece o sentido último de sua existência: “somente em Deus (no Amor) o homem há de encontrar a verdade e a felicidade que não cessa de procurar”, diz o Catecismo da Igreja Católica.

Certa vez perguntaram a um poeta se ele já havia sofrido muito por amor, e ele respondeu de forma simples e tranqüila: “Estou disposto a sofrer mais ainda”. E você?! Está disposto a viver e sofrer por amor e para o Amor?!

santidadesh
Enviado por santidadesh em 27/03/2006
Código do texto: T129486