OS AMIGOS SECRETOS ESTÃO CHEGANDO

Você sai sempre com a pessoa que você não queria, não é mesmo? E quem dá para você? Aquela pobreza de presente. Um cinzeiro de plástico verde.

Existem dois tipos de amigos secretos: os da firma e os da família.

Mas devia ter mais. Os congressitas, por exemplo. Já pensaram? PT dando amigo secreto para o PPB?

Amigos secretos entre técnicos e juízes de futebol. Ia dar muito cartão vermelho.

Amigos secretos entre lutadores de box. Este ano ia rolar muita orelha.

Amigos secretos entre vestibulandos de um mesmo curso. O que ia pintar de falsas apostilas!

A festa dos amigos secretos de firmas, é sempre feita em restaurantes. Adoro. Às vezes, estou num restaurante e vendo aquela mesona grande e preparada, já sei. É dezembro, é natal. Baixou o espírito. Dou sempre um jeito para sentar bem perto, fico de costas, a ouvir.

Eles chegam meio ressabiados, quietos e vão se soltando enquanto o álcool vai subindo. Tem problemas, porque se um subalterno tem como amigo secreto o chefe, tem que gastar mais. Mas justamente este, vai receber do contínuo.

Depois começam os discursos meio etilizados. Ah, que maravilhas de improvisos. Ao chefão geral fica reservada a última palavra. Ele fala do crescimento (ou queda) da empresa, agradece a todo e, invariavelmente, vai embora antes que a suruba se estabeleça de vez. Funcionários vão perdendo a compostura. Começa o vira-vira-vira de cerveja. Chefes cantam secretárias. Alguns dizem verdades para o chefe do departamento de pessoal. Tem gente que pede aumento. Tem gente que vomita ali mesmo. Que barulheira, que felicidade (?). É natal, é confraternização. Tem sempre alguém que não vai trabalhar no dia seguinte. Por ressaca ou por vergonha mesmo. Aquela que era sempre a mais tímida, será que ela vai lembrar que subiu na mesa do restaurante e tentou um strip-tease? E aquela bolsa de mulher que ele levou para casa? E aquele homem do “planejamento” que acordou na cama dela?

O amigo secreto familiar é mais complicado ainda, principalmente se a família já está na quarta geração. Primeiro, que tem um velhinho ou uma velhinha sentados num canto que não têm a menor idéia do que está acontecendo. Filhos que estão para se separar. Cunhados que se odoiem. A terceira geração louca para acabar aquela porra e partir para festinhas particulares. E a quarta geraçaão a chorar, a amamentar e a trocar de fraldas ali mesmo, debaixo da árove com falsas neves. Sem contar dos coitadinhos que estão dormindo e os pais vão lá. Vem ver o que o Papai Noel trouxe para você. Papai Noel? Já tenho dois pais e, agora, mais um?

E tem também a comida e a bebida que cada um fica de trazer um pouco. Sempre tem aquele mais econômico que compra o pernil no bortequim da esquina. Aquele que traz o vinho horroroso, sem falar no responsável pela champanha.

Depois da abertura de todos os presentes, tem uma reza, com todos de mãos dadas. Comem, depois sentam-se para acertar a conta. Aí que o espírito natalino vai mesmo para a cucuia. Quando, depois de horas e álcool, acertam tudo, sempre tem um que diz:

- Peraí, a torta que eu trouxe custou muito mais que a maionese da fulana.

Está estabelecido o caos, só aumentado pelo choro das crianças que, alheias àquela besteira toda, querem ir dormir com o ursinho que ganharam da madrinha que, completamente maconhada, passa a noite a rir, para desconfiança de todos.

No dia seguinte a ressaca é geral. Deve ser por isso que comemoram o natal na véspera. Para o cara ter um dia inteiro para se recompor e se desligar de todas as besteiras que fez e disse.

O que não pensará Jesus de tudo isso? Que, inclusive, dizem, nem nasceu no dia 25 de dezembro.

Enquanto isso, deitados em suas camas, os comerciantes dormem o sono dos injustos. Eles não têm amigos secretos.

EVERTON LUIS De Bairro
Enviado por EVERTON LUIS De Bairro em 06/07/2009
Código do texto: T1685028
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