A borboleta e o burrinho

(Fábula de domínio público, adaptada).

Wilson Correia*

Em uma floresta viviam um Burrinho e uma Borboleta. Como afeto não precisa ser explicado, aconteceu que, sem a menor explicação, Burrinho e Borboleta vieram a se aproximar.

A Borboleta, livre, voava floresta afora e embelezava a paisagem. O Burrinho, ao contrário, vivia cabresteado, sem poder se movimentar.

A Borboleta afeiçoou-se à presença do Burrinho e lhe fazia companhia. Porém, em toda aproximação ela levava um coice do Burrinho. Essa história de se aproximar generosamente e receber o coice repetiu-se indefinidamente, até o dia em que a Borboleta não mais se aproximou do Burrinho.

Claro, o Burrinho se preocupou. E, com a ajuda do Macaquinho Prego, livrou-se do cabresto e se colocou floresta adentro para campear sua amiga, para saber a razão pela qual ela não mais apareceu. Nessa procura ele encontrou o Papagaio Chico, a quem contou o seu drama e de quem ouviu o seguinte:

– Sua amiga falava muito bem de você. Ela o amava muito. Ela só não gostava de um certo Burrinho que a maltratava com coices toda vez que ela ia visitá-lo. E esses coices foram tantos que ela ficou toda marcada, perdeu as asinhas, não pôde mais voar e veio a falecer.

– Nossa! – exclamou o Burrinho – e vocês nem foram me avisar que ela estava doente?

– Então – respondeu o Papagaio –, nós até tentamos ir até você, mas a Borboleta disse, já com a voz fraquinha, que deveríamos deixá-lo em paz, pois você tinha um imenso problema: o maior tesouro que é a liberdade lhe havia sido negado por conta de um cabresto que lhe deixava muito entristecido e zangado.

Ao ouvir isso, o Burrinho se sentiu muito mal, teve um ataque do coração e Chico precisou abaná-lo com as próprias asinhas. Mais que isso: Chico também lhe serviu um copo d’água natural, na tentativa de fazê-lo livrar-se do triste peso na consciência que se abateu sobre ele. Mas o ar fresco da floresta e a água pura da fonte foram capazes melhorar a condição do Burrinho, o qual, impactado pelo mal que havia feito a uma criatura de bem, desfaleceu ali onde se encontrava.

APPRENDIZADOS COM A MORAL DA HISTÓRIA: Reconheça quem “é” para você enquanto é tempo. Não se mate a si mesmo naquele que o acolheu por companhia e presença feliz. O coice dado no outro bem pode ser um coice em si mesmo, e nada mais.

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*Wilson Correia é filósofo, psicopedagogo e doutor em Educação pela Unicamp e Adjunto em Filosofia da Educação na Universidade Federal do Tocantins. É autor de ‘TCC não é um bicho-de-sete-cabeças’. Rio de Janeiro: Ciência Moderna: 2009. Endereço eletrônico: wilfc2002@yahoo.com.br