Disque Inferno

O telefone toca.

Ouço a chamada distante tocar.

Sinto o timbre,

Imagino o som que vc esta ouvindo.

Segundo toque.

Coloco nele a esperança

De ouvir de novo tua voz

E sentir o teu carinho

Me embalando o sono,

Me trazendo alento,

Me motivando a ir mais além.

Terceiro toque.

Noto minhas mãos frias e suadas,

Meus dedos trêmulos agarram o fone com mais força.

Uma pontada de febre me invade,

Onde será que esta?

Te imagino no chuveiro, molhado,

Rapidamente se enrolando na toalha

Para vir atender ao telefone.

Quarto toque.

Começo a desconfiar que não estejas em casa,

Que estejas sorrindo pra outra pessoa,

Recebendo outros beijos.

Não!

Melhor pensar que foi assassinada.

Imaginar teu corpo frio,

No ladrilho da cozinha,

Me dá menos medo do que imaginar teu sorriso

E teus beijos em outra boca que não a minha.

Quinto toque.

Desespero total.

Meu coração dispara,

Minhas veias dilatam,

Começo a ficar cego,

Sem saber o que pensar,

Sem sequer saber o que é pensar.

Minha cabeça lateja

E o desejo de invadir o fone

Me transportar para o outro lado do fio é urgente em mim.

O que fazer?

Polícia, necrotério, pileque, suicídio?

Sexto toque.

A campainha começa a tocar e é interrompida de repente.

Uma voz sonolenta atende.

A tua voz.

Límpida, sonora, delicada, tão amada.

Uma simples palavra de três letras que me tira da crucificação imposta pela tua distancia.

Respondo também - alô

E todas as dúvidas do mundo se dissipam,

Toda tempestade se abre num glorioso céu de brigadeiro,

Por trás das nuvens vejo teu sorriso renascer,

Como o sol que desponta no horizonte.

O sorriso que é só um,

Que continuará a ser só meu

Por toda a eternidade,

Ou até ouvir a palavra adeus