Desejos Inconfessáveis

Continuo pensando em você, no que gostaria de te dizer, pior ainda, em como gostaria de dizer: ao pé de ouvido.

Porém nunca tivemos conversas assim. Apenas duas vezes conversamos olho no olho, mas haviam muitas testemunhas. E estávamos meio que nos conhecendo, talvez fosse melhor dizer “nos estudando”.

Continuo tendo os sentimentos errados por você. Sentimentos proibidos. Que você desconsidera, que só me machucam. Te amar não é nada fácil. Dizer que te amo é outra coisa. Poderia guardar pra mim... aliás, deveria guardar só pra mim! Se você não soubesse, eu sofreria bem menos. Te amar sempre me parece um erro muito grande, mas não é, nem de longe, o meu maior erro. O pior equívoco foi te dizer o que ia aqui, dentro de mim...

Penso numa música não tão romântica, cujo trecho parece expressar meus desejos inconfessáveis:

If you go, I wanna go with you

And if you die, I wanna die with you

Take your hand and walk away

(Se você for, eu quero ir com você

E se você morrer, eu quero morrer com você

Pegar na tua mão e seguir em frente)

Somente pessoas com pensamentos depravados e escusos pra desejar tal coisa com você, não é mesmo... querer estar com a pessoa, andar a seu lado, até o fim da vida neste pequeno mundo azulado... realmente não é o desejo de ninguém que queira, que almeje um amor pra toda vida. É, realmente você que está certa em chamar de “vida” alguém que não tá muito afim de estar a teu lado no fim desta vida e começo da próxima. Sim, eu sei, sou definitivamente um idiota e um canalha por alimentar tais desejos por você. Querer estar sempre ao teu lado, te apoiar, se tropeçar no caminho, te aquecer quando estiver se sentindo fria e sozinha... querer estar a teu lado, quando tua pele tiver se enrugado e perdido o viço de agora, quando teus cabelos estiverem brancos, brancos, quando teus olhos não conseguirem mais sequer se reconhecerem no espelho... realmente, tudo isso é anti-natural. Isso não é amor pra toda vida. Eu é que estou errado em pensar algo assim.

O certo é mais esse dia, considerado especial só para o comércio, estarmos separados, você persistindo no silêncio que dá margem pras mais absurdas interpretações, curtindo a infelicidade de sentir-se feliz com aquilo que arranjou pra si. E eu sozinho, como sempre. Solitário, no dia em que é proibido se estar solitário. Não me lembro de nenhuma vez esta data ter algum sentido pra mim. Não é pra mim. Nunca foi, até hoje, e tudo indica que nunca será. Devia agradecer a você, talvez... mas não tenho como fazê-lo. Também, com desejos tão estranhos e perversos, não deveria me admirar! Ora veja, querer amar alguém e estar ao lado dela até o fim da vida... você merece um amor de sonhos, mesmo, onde você demonstre e diga o quanto o ama e ele só responda “sim, eu sei”. Eu não conseguiria te dizer só isso. Que sorte que você não viu em mim o amor almejado!

Não precisava ter realizados meus sonhos perniciosos de amor... bastava entender por quê só eu te vi...

Ayrton Mortimer
Enviado por Ayrton Mortimer em 11/06/2010
Código do texto: T2314417
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